sexta-feira, 28 de maio de 2010

28 de maio de 2010

Há algum tempo leio a obra "escoffianas brasileiras", de Alex Atala. Pratiquei algumas receitas do chef em ocasiões especiais. Galinhada com arroz, quiabo e mandioca palha. Meu pai e minha avó se deliciaram. Hoje, vou cozinhar suâ de porco.
Fui ao hortifruti do bairro de higienópolis, em São Paulo. A lista da compra não era extensa. Precisava de beterraba,´inhame, óleo, almeirão, suã de porco, cebola, salsão, tomate, hortelã, salsinha e vinho branco.
Voltei do mercado e cozinhei! Fiz arroz com beterraba glaceada. Delícia! Depois, cubinhos de ihame frito! Ah! Cansei e sai para tomar cerveja! Deixa o suã para amanhã. Até mais.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Ora-pro-nóbis

Ora-Pro-Nóbis
( Peireskia aculeata)
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão
Miserere nobis
Ora, ora pro nobis
Capinan

Cozinha nova. Fogão de última geração. O cozimento da moda é a vácuo. A coifa assemelha-se à uma nave espacial. Para dourar, a salamandra. Parece até máquina de bronzeamento artificial. Existe um espaço exposto ao público, a bancada brilha como diamante. Volto à cozinha onde ninguém nos vê, exceto as baratas. O chão permanece sujo. Os funcionários escorregam na gordura.

O cardápio é uma volta ao passado. Caro leitor, é preciso esclarecer, estamos no ano de 2010, mas vivemos como se estivéssemos na década de 1980. O garçon chega apressado e gritando: sai uma panna cotta e um creme brullè. No fogão faz-se um prato “contemporâneo brasileiro”: lombo cozido a vácuo ao molho de ragu com angu e ora-pro-nóbis.

Quero explicar o que é esse trem doido. Também conhecida como ”Orapronóbis” , ou quiabinho do reino, rica em proteínas, depois de cozida assemelha-se com espinafre. Usado no estado de Minas Gerais, presente na alimentação do homem do campo, pouco conhecido e dificíl de ser encontrado fora do estado. Uma delícia!

Voltei para a cozinha. Os pedidos não cessaram. Escutei um cozinheiro reclamar do capitalismo, porém, satisfeito voltou à produção frenética. Usei um pouco de farinha para sustentar a massa. Pediram uma tarte tartin. Esquecei de virá-la de cabeça para baixo. Meti a mão e virei-a. Será que a torta tem cabeça? Sei lá!

Marcha um robalo com crosta de brioche e aspargo fresco! Lá vinha o garçon chato, pedindo prato. Ainda por cima, metido a besta. Só fala do seu novo carro novo. Esse negócio de marchar o prato na cozinha parece coisa de militar! Nada contra os milicos, mas minha mãe contava histórias bizzaras dos anos da ditadura. Fiquei traumatizado.

Cozinha nova e ainda suja. Pratos remontados com a essência velha na história da gastronomia. Pratos novos apoiados nos clássicos. Lembrei-me de Chico Buarque: Essa moça tá diferente...

Hora de fazer

Purê de abóbora com tutano, queijo-de-minas e café

300g de abóbora-moranga, sal a gosto, 100g de queijo-de-minas-meiacura, 50g de tutano de boi, azeite de café, grãos de café, 1 folha de alfavaca-do-pará.

Corte a abóbora em pedaços de 3cm. Cozinhe-a em água fervente com sal até que fique macia. Escorra e reserve. Para o azeite de café, separe 300 ml de azeite e 100g de grão de café. Aqueça o azeite em um banho-maria a 50 graus. Aqueça os grãos de café no forno por 7 minutos a 150 graus. Adicione os grãos de café ao azeite. Deixe em infusão por 10 minutos. Coe e reserve. Rale o queijo e reserve-o. Em uma panela, derreta o tutano em fogo baixo a acrescente a abóbora. Misture bem com a ajuda de um garfo. Acerte o sal. Coloque o purê em um prato, ao lado o queijo. Regue com o azeite de café, espalhe uns grãos torrados no prato e finalize com a folha de alfavaca.
Receita do chef Alex Atala.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Influência portuguesa na culinária brasileira

Guitarras e sanfonas, Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca deságua no Tejo

Chico Buarque e Ruy Guerra

A culinária no Brasil colonial, com a chegada da Famíla Imperial portuguesa por volta de 1808, mudou as práticas alimentares do Brasil, especialmente da cidade do Rio de Janeiro. Com a abertura dos portos, os produtos importados não paravam de entrar no Brasil. A Gazeta do Rio de Janeiro trazia notícias de diversos tipos de pães, como o português, o italiano, o francês, o espanhol; vinhos variados, presuntos, salames, embutidos em geral, nozes, avelãs e amêndoas, tinas de bacalhau, vinho do porto, queijo, sardinha, manteiga, produtos utilizados por portugueses menos abastados; anos depois, já no fim do século XIX, chegaram novos produtos importados, requintados, como a “manteiga inglesa superior”, o “chá de lipton”, o vinagre francês, a conserva inglesa.

O crescimento econômico do Rio de Janeiro, impulsionado pela implantação das linhas marítimas e ferroviárias, deixava claro a chegada de novos sabores e serviços a favor da boa mesa, mas somente para as pessoas remediadas. Os mais diversos serviços, como padeiros, confeiteiros, colocavam à mesa produtos como pães de trigo, empadas de camarão, de frango e de peixe, doces finos de acompanhamento, chás, sorvetes e biscuit glâce.

Não apenas novos serviços chegavam; chegavam também os utensílios mais variados possível. Utensílios de copa e mesa, como terrinas para sopas, xícaras e bules para chá, jarros para água. Os chamados mestres de cozinha e as criadas afrancesadas estavam presentes nas residências cariocas.

As refeições prontas estavam à venda nas casas de pasto, pequenos estabelecimentos comerciais que serviam comida. Eram servidos bife, língua cozida, ensopado, pudim e vinhos. Os serviços e os alimentos pareciam estar atendendo não só aos estrangeiros recém-chegados, como também aos brasileiros; estavam sendo introduzidas novas possibilidades de cardápio alimentar.

A culinária estava dividida em duas partes: uma baseada em produtos e conhecimentos locais, e a outra importada, destinada inicialmente a um pequeno grupo social; ambas convivem em constante negociação em um sistema de relação dinâmico e atualizado frequentemente, tanto nas novas receitas, quanto nos modos à mesa. Assim, a culinária no século XIX mostra uma sociedade em plena transformação.

Hora de fazer

Cozido de carne

Músculo
Batata
Cenoura
Cebola
Azeitona preta
Couve-de-bruxelas
Azeite português
Sal
Pimenta branca
Salsinha

Cozinhe o músculo na panela de pressão por 1 hora e depois retire o excesso de gordura da carne. Aproveite a água do cozimento da carne e cozinhe os legumes um por vez. Faça uma cama com os legumes, coloque a carne por cima e adicione as azeitonas. Regue com azeite e polvilhe com salsinha fresca.

Influência indígena na culinária brasileira

“Mandioca: planta dos trópicos de seiva leitosa e venenosa.”
Alexandre Dumas


Por volta de 1950, a Amazônia possuía cerca de seiscentas nações indígenas, uma diversidade de cultura, tipos raciais e línguas.

Os índios influenciaram na alimentação brasileira pelo seu modo de preparar a comida, pela forma de comer, temperar, fazer acompanhamentos e criar misturas do tipo azedo com doce, cru com moqueado. Em toda a costa brasileira, habitada pela população ameríndia, a alimentação era suprida com mandioca; os rios repletos de peixes também eram grandes fornecedores de alimento para os índios.

A agricultura da mandioca é conhecida há mais ou menos dez mil anos; no decorrer dos tempos, foram cultivados diversos tipos dela, como as doces, as não venenosas, as macaxeiras, do Norte, o aipim do Rio de Janeiro.

Hábitos e ingredientes diversos dão características regionais à comida brasileira; na culinária indígena, o tucupi, por exemplo, é um líquido extraído da mandioca brava através de um trançado de palha chamado tipiti. Esse caldo é utilizado para fazer o pato no tucupi, prato tradicional do Amazonas.

Em Belém do Pará, acontece uma das maiores festas católicas do mundo (o Círio de Nazaré). Durante as festas, é servido o pato no tucupi.

Alguns exemplos de alimentos de influência indígena: mandioca, tomate, batata, batata-doce, pimentão, peixe, cará branco e cará roxo, pimenta, beiju, pé de moleque, carne-seca, farinha de mandioca, milho; algumas frutas, como abacaxi, ananás, bibibá, abacate, matapi, cucura, culmã, abil, jatobá, açaí, banana, pacovas, caju entre outras.

Hora de fazer

Mandioca assada

500g de mandioca
Azeite, sal e pimenta branca moída a gosto

Retire a casca marrom da mandioca e corte-a em pedaços médios. Coloque-a em uma panela de pressão com água suficiente para cobri-la. Deixe-a cozinhar por 20 minutos, marque o tempo a partir do momento que a panela adquirir pressão. Escorra a mandioca e deixe-a esfriar. Retire a casca branca que é desprendida após o seu cozimento. Coloque os pedaços de mandioca em uma forma forrada com papel- alumíno e tempere-os com sal, pimenta e azeite. Leve a mandioca ao forno pré-aquecido em alta temperatura. Deixe-a assar até dourar. A mandioca pode acompanhar peixe, carne bovina, carne seca (bovina), carne suína, aves etc.

A mandioca brava é venenosa, mas, se fervida por 48 horas, é própria para o consumo. Com ela se faz o caldo do tucupi, conforme descrito anteriormente.


Referências Bibliográficas
DUMAS, Alexandre. Grande dicionário de culinária. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
FERNANDES, Caloca. Viagem gastronômica através do Brasil. 8. ed. São Paulo: Senac, 2007.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janerio: Objetiva, 2009.

Influência dos imigrantes na culinária brasileira

“A polenta fica melhor quando preparada em panela de bronze.”

Carluccio


Fazendo uma análise do Sudeste brasileiro, é possível enxergar a influência da comunidade europeia no Brasil. São Paulo é fortemente marcado pela colonização italiana; o interior paulista mantém hábitos italianos: as casas em dia de domingo são perfumadas com tomate fresco do molho das macarronadas ou da polenta.

Embora a capital paulista possua imigrantes de muitas partes do mundo, podemos destacar a forte influência italiana e asiática.

Os bairros da Bela Vista e Moóca são recheados por cantinas e pizzarias, festa italiana nas ruas, centenárias padarias típicas italianas, empórios, entre outros comércios trazidos pelos italianos.

Não muito longe da Bela Vista, chegamos ao Bairro da Liberdade onde a cultura oriental predomina. Destaca-se a alimentação, e é desnecessário enumerar os restaurantes orientais e feiras de rua que servem rolinho primavera, yakissoba, bolinho de polvo e camarão, entre outras delícias.

Hora de fazer

Polenta

200 g de fubá
1 litro de água mineral
1 colher de sopa de azeite
Sal e pimenta branca a gosto

Dilua o fubá na água fria. Acrescente azeite, sal e pimenta. Leve ao fogo médio até engrossar; então, abaixe o fogo e deixe cozinhar por 40 minutos, mexendo constantemente para o fubá não grudar no fundo da panela.

Para os leitores que acompanharam a matéria da semana passada, a galinha ao molho de vinho é uma ótima sugestão; molho de tomate com linguiça caseira, pernil assado com ovo frito com a gema mole (que nenhum médico ouça esse cozinheiro maluco).

No tempo dos romanos, a polenta era um mingau feito com farinha de vários grãos e legumes; hoje, é feita com a farinha de milho amarela ou branca. Na Itália, a polenta é descrita como mingau de qualquer grão, como, por exemplo, polenta de feijão. Também podemos utilizar a polenta para outras preparações. A sobra da polenta pode ser frita para acompanhar uma cerveja ou consumida fria no café da manhã, e por que não na brasa da churrasqueira? Para enformar as sobras, coloque a polenta em uma forma de modo que alcance no mínimo 3cm de espessura; deixe-a esfriar e corte-a no formato desejado para fritar, comer fria ou na brasa.

Referências Bibliográficas

CARLUCCIO, Antonio. Cozinha italiana completa. Tradução de Leonardo Antunes e Sheila Mazzolenis. São Paulo: Globo, 2006.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janerio: Objetiva, 2009.

Gastrônomos segundo Brillat-Savarin

“Há indivíduos a quem a natureza recusou uma delicadeza de órgãos ou uma capacidade de atenção sem as quais as iguarias mais gostosas passam despercebidas.”
Brillat-Savarin


Segundo Brillat-Savarin, algumas pessoas são mal providas de terminações nervosas na língua , e isso faz com que elas não apreciem o sabor dos alimentos.
Não é só a fisiologia que atrapalha o prazer à mesa, mas também a maneira como algumas pessoas se comportam diante das refeições. Os apressados comem cru, ou não comem se estiverem muito apressados; os falantes não se preocupam com a comida e na maioria das vezes a comem fria; os vidrados em televisão comem sentados diante da tela, e sempre mancham o sofá; os trabalhadores mal remunerados muitas vezes comem em barraquinhas de rua, em pé e inalando fumaça, entre outros indivíduos de pouca sorte.
No livro “Fisiologia do gosto”, Brillat diz que existe o prazer de comer e o prazer da mesa; o prazer de comer é a necessidade fisiológica do animal. E o prazer da mesa é próprio da espécie humana; requer cuidado na preparação dos alimentos, escolha do local e das companhias.
O prazer da mesa ocasiona sensações inesquecíveis; quem não se recorda com precisão de pelo menos um almoço de família? Há muito o que lembrar: aroma, gosto e visual da comida; vestimentas, cortes de cabelo e expressão das pessoas; cidade em que ocorreu o almoço, a casa e até a estação do ano.
Sob a ótica de um gastrônomo, esses detalhes não passam despercebidos; é a harmonia entre pessoas, lugares e alimentos que produz uma refeição prazerosa. As melhores refeições da minha vida foram preparadas pela minha mãe, minha avó e cozinheiros com alma de gastrônomo. Segundo Brillat, o gastrônomo, quando se propõe servir uma refeição, é responsável pela felicidade dos convidados, do momento em que chegam até a partida.
Quando uma pessoa começa a dedicar-se à boa mesa, observando os aspectos de uma refeição, fica claro por que algumas delas são fracassadas. Tão importante quanto a comida são outros elementos que envolvem uma refeição; um cozinheiro pontual, uma boa companhia, um lugar agradável, a calma para comer etc. A preocupação com os detalhes eleva uma pessoa à condição de gastrônomo.

Dicas de Brillat-Savarin para um bom jantar
Que o número de comensais não exceda doze.
Que os gostos dos convidados sejam análogos, e com pontos de contato a fim de evitar apresentações.
Que a sala de jantar seja iluminada suficientemente, a toalha de mesa impecável e a temperatura entre 16°C e 20°C.
Que sejam homens espirituosos e mulheres amáveis.
Que os pratos sejam escolhidos com requinte, mas em número pequeno.
Que o vinho seja de qualidade.
Que o desenrolar das refeições seja moderado, e os convidados devem chegar juntos ao mesmo lugar.
Que o café seja servido bem quente.
Que a sala de jantar seja bastante espaçosa para comportar um jogo de cartas ao final.
Que os convidados sejam retidos pela boa companhia.
Que o chá não seja demasiado forte.
Que a retirada não comece antes das onze, mas que à meia-noite todos estejam deitados.

Hora de fazer

Pão-de-ló (Génoise)

10 ovos em temperatura ambiente
300g de açúcar
300g de farinha de trigo
50g de manteiga derretida
Manteiga sem sal para untar
Farinha de trigo para polvilhar

Preaqueça o forno a 190°C. Unte duas formas de 20 cm de diâmetro, cobrindo em seguida o fundo com um disco de papel-manteiga untado e polvilhado com farinha. Bata os ovos com o açúcar na batedeira até que tripliquem de volume. Para testar o ponto, pegue uma colher de chá e coloque um pouco da mistura: ela não deve cair da colher. Retire a mistura da batedeira e transfira-a para uma tigela. Incorpore a farinha, peneirando-a delicadamente. Incorpore a manteiga morna aos poucos, misturando delicadamente até a massa ficar homogênea. Distribua a massa entre as formas. Leve imediatamente ao forno por aproximadamente 30 minutos. Teste o ponto, apertando a massa com os dedos. Ela deve ceder ao toque do dedo sem ficar marcada. O pão-de-ló deve ser desenformado ainda quente, mas cortado somente depois de esfriar. A massa Genóise é base para qualquer recheio. Esse bolo foi recheado com doce de leite, castanha de caju e rapadura. Use a imaginação.

Referências
CREMA, Carole; KÖVESI, Betty; MARTINOLI, Gabriela; SIFERTT, Carlos. 400 g: técnicas de cozinha. São Paulo: Nacional, 2007.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
SAVARIN, Brillat. A fisiologia do gosto. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Discorrendo sobre alguns alimentos

“O homem não vive do que come, mas do que digere.”
Vitor Hugo

A cenoura é uma hortaliça da família das umbelíferas cuja raiz é apreciada na culinária pelo seu sabor agradável. A canela é extraída de uma árvore que pode ter sido originada no Ceilão. Ela é a segunda casca de uma árvore chamada caneleira e talvez seja a especiaria de melhor perfume na culinária. O brócolis é uma flor, assim como a couve-flor. Eles podem ser preparados cozido em água para depois serem refogados na manteiga e gratinados com queijo. O bode é o macho da cabra; quando jovem chama-se cabrito e deve ser comido antes dos seis meses; depois disso, o gosto e o cheiro é desagradável. O bode sempre foi vítima de rituais macabros. Coitado do bichinho! É tão gostoso de comer!
A baunilha é uma erva exótica da família da orquídea e cresce na sombra de rochedos e em troncos de árvores. É utilizada para aromatizar bolos, cremes, bebidas a até chocolate. A baunilha é umas das iguarias da culinária de maior valor monetário! Baobá é a árvore que produz a fruta “pão de macaco”, nome dado por ser umas das frutas prediletas do animal. O arroz é originário do Oriente. Depois do pão, ele é o alimento mais consumido no mundo há anos. Do arroz, são feitas bebidas, como a saquê japonês. A língua, segundo alguns gastrônomos, é a parte do animal que supera todas as outras. No reinado de Luís XII na França, existia uma regra feudal em que todas as línguas de bois mortos perteciam ao senhor do lugar. A maçã é comida crua, em compotas, em geléias e marmeladas. Na França, é confeccionada uma torta de maçã, talvez seja o doce mais tradicional do país, a “Tarte Tatin.” Seu recheio é feito no fundo da forma; quando pronta essa torta, ela é virada para cima. Acredita-se que a forma de fazê-la tenha surgido devido a um erro do cozinheiro. A ostra é um molusco acéfalo, ou seja, sem cabeça. É consumido cru com limão ou gratinado. O “escargot” é uma lesma com concha. Os romanos alimentavam-nos com trigo e vinho para facilitar a sua digestão. O espinafre á da famíla da erva-armoles. O espinafre é muito nutritivo e agrada o estômago, e o marinheiro“Popeye” deve saber disso!
Os alimentos são fontes de vida e de inspiração, mas esse texto tem que acabar como tudo na vida é inexorável!

Hora de fazer

Tarte Tatin

Maçãs para cobrir o fundo da forma
250g de açúcar
50g de manteiga
1g de pectina (espécie de gelatina)

Descasque e corte as maçãs ao meio. Tire as sementes e divida cada metade em três pedaços. Espalhe na superfície de uma forma redonda a manteiga amolecida e por cima polvilhe 50g de açúcar e a pectina. Acomode os pedaços de maçã enfileirados em círculos; não deixe muito espaço entre as maçãs. Adicione o restante do açúcar e leve ao forno preaquecido em temperatura baixa por 25 minutos ou até caramelizar.

A massa da “Tarte Tatin” chama-se “sablé”.

200g de farinha de trigo
100g de açúcar
150g de manteiga
1 ovo
1 pitada de fermento
1 pitada de sal

Misture os ingredientes até formarem uma massa. Abra a massa com as mãos ou com um rolo de madeira. Recorte em círculo de diâmetro um pouco menor que a forma utilizada para as maçãs. Depois de caramelizar as maçãs, cubra-as com a massa pressionando delicadamente, de modo que grude na fruta. Leve ao forno por cerca de 20 minutos ou até dourar. Para desenformar, espere esfriar a torta. Sirva com as maçãs viradas para cima. Lembram-se da história da “Tarte Tatin”? Foi um erro! Tem erro que dá certo...

Referências
DUMAS, Alexandre. O grande dicionário da culinária. Tradução e organização brasileira de André Telles; seleção de receitas, Sandra Secchin. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Comida Caipira

“Goiabada cascão com muito queijo depois café, cigarro e o beijo de uma mulata”.
João Bosco e Aldir Blanc

Estava lendo o caderno “Paladar” do jornal “O Estado de São Paulo” do dia 29 de outubro e me deparei com uma matéria da comida paulista, especificamente a comida do Vale do Paraíba.
Esta matéria me fez lembrar de meu trabalho de conclusão de curso da faculdade de gastronomia que abordou a cozinha brasileira, especificamente a comida do sudeste.
Que vontade me deu de tirar uns dias de férias para provar as delícias do nosso estado. A primeira parada seria na cidade de Lagoinhas para comer bumbum de formiga Içá, como tira-gosto. Em São José dos Campos e em Jacareí , degustar o bolinho caipira feito de farinha de milho; na primeira cidade, o bolinho é feito com farinha de milho amarela e recheado com carne moída; na segunda cidade, é preparado com farinha de milho branca e recheado com linguiça de porco.
Na cidade de Paty do Alferes, a estrela é o tomate! Eu nem sabia que era produzido licor da fruta, assim como bombom, além de tomate em calda e geleia.
Sem contar os pratos clássicos do Vale do Paraíba: feijão tropeiro, frango com cará-do-ar, paçoca de carne seca, arroz-com-feijão, couve e angu, leitoa à pururuca, vaca atolada, afogado etc. Nooossa, que delírio...
Os doces caipiras são de fruta e açúcar... Atualmente, são feitos com açúcar branco e refinado; nos anos dourados, eram feitos com o açúcar mascavo, que é produzido somente com cana-de-açúcar... talvez mais saudáveis... sei lá o que é mais saudável... deixa pra lá...
É comida para mais de kilômetro, Sô! O estado paulista é naturalmente lindo e perfumado, seja no Vale do Paraíba, seja na Região Metropolitana de São Paulo, seja no Litoral, enfim, em todas as partes há muita comida boa e gente humilde que até me arrepia!
Curiosidade

O pastel de angu, originário de Itabirito (MG), foi criado por volta de 1851, na fazenda de David Pereira Lima. Sua esposa Ana Joaquina de Lima tinha duas escravas da Senzala: uma chama-se Philó e a outra Maria Conga. Elas aproveitaram a sobra do angu para criar o pastel; na falta da carne na alimentação, elas fizeram um guisado de umbigo de banana. No início, o pastel era enrolado com o recheio, achatado para ser assado. Logo no começo do século XIX, sua forma foi modificada e passou a ser frito, tornando-se famoso até hoje nas mesas mineiras e paulistas. Sua receita é passada até hoje de mãe para filha. Originalmente, o fubá de milho vinha do moinho movido a água. O seu recheio, além do umbigo de banana, tornou-se variado (carne, queijo, entre outros). Em Minas Gerais e São Paulo, é comum sentar-se em um botequim e pedir um pastel de angu e uma cachaça para acompanhar.

Hora de fazer

Pastel de angu

500 ml de água
250g de fubá de milho
15 ml de óleo vegetal
5g de sal
1 ovo
1 pitada de bicarbonato
50g de polvilho azedo
Recheio
250g de carne para moer (acém, patinho)
100g de banana
50g de cebola
10 ml de óleo vegetal
15g de alho
Qb de canela em pó
Qb de sal
Qb de pimenta branca

Ponha água para ferver, com o sal e o óleo. Quando a água começar a borbulhar, coloque o bicarbonato de sódio. Em seguida, acrescente o fubá aos poucos. Mexa bastante com colher-de-pau até adicionar todo o fubá. Quando a massa ficar consistente, retire-a e espalhe-a em pedra de pia limpa. Acrescente o ovo e o polvilho azedo. Sove a massa até ficar lisa.
Preparo do recheio
Aqueça a panela com o óleo, doure a cebola, o alho e a carne moída até secar a água. Coloque o sal, a pimenta, a canela e mexa. Trabalhe com um pote de água ao lado para umedecer as mãos. Faça uma cestinha na palma da mão e coloque o recheio dentro de uma cesta. Junte as pontas em forma de meia lua. Feche-as, dobrando 0,5 centímetro das bordas para dentro. Os pastéis devem ficar no formato de um pastel de feira. Frites os pastéis até dourar. Deixe-os descançar em papel toalha até ficarem bem sequinhos, então sirva-os.

Comida à pampa

“Em todas as estâncias veem-se muitos ossos de bois espalhados por todos os cantos e, ao entrar nas casas de fazendas, sente-se logo o cheiro de carne e de gordura.”
Auguste de Saint-Hilaire


Hoje, trago para vocês, leitores, um pouco da culinária gaúcha. Esse Estado belíssimo em que as estações lembram o velho continente europeu. Talvez o fogo seja o maior símbolo da culinária e da guerra dos farrapos. Juntamente com o fogo, veio o churrasco gaúcho, que foi desenvolvido pelos índios charruas! A culinária gaúcha é bruta assim como a farroupilha, regada a muito sangue de boi e de homens. No Rio Grande do Sul, o sal é o único tempero da carne! E precisa de mais? Não, segundo a opinião dos gaúchos e a minha também, mas a minha não conta...
Não é só de churrasco que a culinária gaúcha é composta. Os europeus também contribuíram para o seu desenvolvimento. Os alemães trouxeram o café colonial, tradicional nas tardes de domingo. Não é um simples cafezinho preto, mas um café completo, com pães, tortas, bolos, doces e carne de porco com repolho! Os italianos ocuparam-se do galeto com espaguete e vinho, que atualmente está causando euforia em alguns entendidos... Para estes últimos, o único vinho realmente bom no Brasil é o espumante.
O chimarrão é um ritual gaúcho, paraguaio, uruguaio, argentino, guarani (índios) e mato-grossense. A palavra chimarrão significa coisa ou pessoa que foge ou gosto amargo da erva-mate. No centro-oeste, adiciona-se água gelada ao chimarrão por causa do calor... muda o nome: tereré!
Não poderia me esquecer do arroz de carreteiro. A palavra carreteiro denomina os peões que percorriam os pampas e os caminhos gaúchos. É uma comida de confraternização, e cada família tem um jeito de fazer. O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do país. Bahhh!!!
Barbaridade, quase esqueci da receita, Tchê!! Lá vai...

Hora de fazer

Arroz de carreteiro

1kg de carne-de-charque
6 colheres de sopa de óleo
1 cebola
3 dentes de alho
2 xícaras e meia de arroz
1 pimentão vermelho

Corte a carne-de-charque em cubos e deixe-a de molho de um dia para o outro, trocando a água regularmente. Aqueça uma panela de ferro (se tiver uma em casa) coloque o óleo, a cebola, o pimentão vermelho e o alho, mexendo sempre. Quando a cebola dourar, coloque a carne e mexa-a até fritá-la. Junte o arroz e frite um pouco. Coloque água fervente até três dedos acima do nível do arroz (não esqueça de tirar os dedos, senão queima). Verifique o tempero, reduza o fogo e cozinhe com a panela tampada. Se o arroz não cozinhar quando a água secar, acrescente um pouco mais de água fervente. Tampe a panela e deixe acabar o cozimento. O arroz fica melhor se servido ainda úmido.

Referências
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1974.
CAVALCANTI, Pedro. A pátria nas panelas: história e receitas da cozinha brasileira. São Paulo: Senac, 2007.
FERNANDES, Caloca. Viagem gastronômica através do Brasil. 8. ed. São Paulo: Senac, 2007.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Carta ao leitor

Caro leitor, como é difícil falar de comida quando acabamos de sair de uma semana de comilança pura, uma orgia gastronômica. Orgia que não dá em litígio, só em vontade de começar a comer de novo e trair os pratos da ceia com uma comidinha... sabe aquela comidinha da vovó?... a minha avó fazia... Enfim comida simples! O ato de abrir a geladeira e começar a fuçar. O que tem de sobras, se tem algo em estado inicial de putrefação... Ovo quase podre, aquela azeitoninha começando a cheirar azedo. Só que, caro leitor, tomemos cuidados com os quase-podres. Esses podem nos levar a óbito, ou a um hospitalzinho, um sorinho na veia. E aí o que era prazer vira desgosto. Por falar em desgosto...
Outro dia estávamos no mercado, escolhendo alface lisa. Do nosso lado, estava um tubinho daqueles de cloro para desinfetar saladas e na embalagem uma etiqueta com os dizeres: “Pode ser usado para desinfentar ovos, evitando, assim, a salmonela.” A dureza de comer ovo e ter uma salmonela podem ser evitados com o simples mergulhar dos ovos na água com gotinhas desse clorinho de mercado. Salmonela está quase cem por cento na casca do ovo. Segundo Alícia e ElBullitaller (2008, p. 213), salmonela é “um microorganismo de tipo bactéria, que normalmente se encontra nas cascas dos ovos das aves. Para os autores, uma forma de evitar é a desinfecção com produtos ácidos ou oxidantes, como o vinagre e o clorinho (hipoclorito de sódio) que vimos nesse mercado no dia em que buscávamos uma alface para desintoxicação da overdose alimentar que tivemos nas festas de final de ano, finado ano velho.
Bom, chega de salmonela, leitor. Só de falar dá arrepio. Vamos voltar às sobras da geladeira. Mais exatamente na nossa sobra aqui de casa: arroz que sobrou do natal, presunto royale, ovos, ervilha, pernil da ceia e tomate. Pensando bem essas sobras merecem uma homenagem a nossa avó Irene lá do Botafogo. Eita velhinha que cozinha bem! Velhinha no sentido carinhoso, porque ela está bem enxutona ainda, regando suas plantinhas todo o dia. Lá vai a receita, leitor. Pegue a caneta...

Hora de fazer

Risoto caipira (o famoso arroz de forno, porque se um italiano ler essa matéria é capaz de correr atrás da gente com um pau de macarrão)

Ingredientes
Arroz que sobrou (3 pratos)
200g de presunto
200g mussarela
1 lata de ervilha
4 ovos
300g de pernil que sobrou desfiado
2 tomates
Sal e orégano a gosto

Hora da “mão na massa”
Pegue o arroz pronto e coloque num pirex de forno. Quebre dois dos ovos, misture ao arroz, acrescente o pernil desfiado, o presunto, a ervilha, a mussarela. Adicione sal a gosto e misture tudo. Cozinhe os dois ovos que restaram à parte, corte os tomates em rodela. Decore a forma de arroz com os tomates já cortados e os ovos cozidos. Orégano a gosto por cima de tudo. Leve ao forno pré-aquecido para dourar. Quem gostar, pode ralar queijo parmesão antes de colocar no forno.

Referências
ALÍCIA; ELBULLITALLER. Léxico científico-gastrônomico: as chaves para entender a cozinha de hoje. Tradução de Sandra Trabucco Velenzuela. São Paulo: Senac, 2008.

Então, leitor, larga essa coluna e vá até a geladeira para dar uma fuçadinha básica. Grande abraço e feliz ano novo. Ano novo com muita comida!
Felipe Tomasi e Carolina Tomasi (felipetomasi@hotmail.com e carollausp@hotmail.com)

Brasil Nativo

“O que nessa terra dá. E o que é que dá? Gabiroba, gameleira, guariroba, gravatá, tambatajá, ouricuri e juremá.”
Paulo Cesar Pinheiro

A cada dia me encanto mais com os ingredientes brasileiros. Parece que estão descobrindo novos alimentos a cada instante no Brasil. Na verdade, esses alimentos são nativos de nossa terra. Antonio Carlos Jobim gravou a música “Brasil Nativo” em 1986, no disco “Passarim”. A letra da canção já descrevia as iguarias brasileiras.
Os chefs, que trabalham no Brasil, estão colocando esses ingredientes em suas criações. Ao pesquisar tais alimentos, descobrem que essas iguarias combinam com a cozinha sofisticada. Quem imaginaria? Alimentos do Recôncavo baiano, do Sertão nordestino, do Cerrado, de Minas, do interior Paulista, da Amazônia etc.
Alguns ingredientes que temos no Brasil:
Cruá, da família do melão, nativa de São Paulo e Minas.
Maturi, semente verde do caju nordestino.
Biri-biri, azedo e serve de tempero como o limão. Dá na Bahia.
Licuri, semente de uma palmeira que nasce no rio São Francisco.
Gravatá, fruta para fazer doces e geleias, cresce do litoral capixaba ao gaúcho.
Maniçoba, folha da mandioca refogada, nativa do Recôncavo Baiano.
Jeniparana, semente comestível, dos rios amazônicos.

Com tantos ingredientes nativos, alguns chefs estão criandos pratos nunca antes comidos. Claude Troisgros, chef francês, que está no Brasil desde a década de 1980, preparou recentemente uma releitura do frango com pequi do cerrado, com os seguintes ingredientes: espuma (como um purê aerado) de pequi com frango, castanhas de baru e azeite de urucum.
Há muito o que criar com os nossos ingredientes, assim como há muito a ser descoberto nos nossos campos: rios, montanhas, cerrados, sertões e mares. Isso tudo dependerá da inquietação dos cozinheiros do Brasil que estão trabalhando a todo vapor. O mundo gastronômico está com as atenções voltadas ao Brasil, pois temos uma variedade de ingredientes. A maioria deles é exótico e soborosíssimo.
O premiado chef francês Roellinger, em sua passagem por Salvador, disse que a nossa fruta sapoti é como uma pêra caramelizada pela natureza. Como eu já disse, o mundo está de olho no Brasil! Vou voltar às minhas pesquisas antes que algum francês as faça por mim!

Hora de fazer

Frango com quiabo e angu
Frango
1 frango
Um pouco de óleo vegetal
1 cebola
1 limão cavalo
Um pouco de salsa
3 pimentas malaguetinhas
Sal a gosto
500 ml de água
400g de quiabo
Angu
250g de fubá
1l de água
Pimenta-do-reino a gosto

Corte o frango em pedaços. Tempere-o com sal, pimenta, limão cavalo e salsa. Reserve-o durante algumas horas. Aqueça o óleo e coloque os pedaços do frango temperado; em seguida, acrescente a cebola e a malaguetinha. Acrescente a água aos poucos. Cozinhe até o frango amolecer para, depois, acrescentar os quiabos cortados em rodelas de 2 cm, até que eles amoleçam.
Para o angu, aqueça a água. Quando ferver, abaixe o fogo e acrescente um pouco de sal e de pimenta-do-reino. Coloque o fubá aos poucos, mexendo sempre até que desgrude do fundo da panela. Ponha em uma forma. Quando esfriar, corte em cubos.
Coloque os cubos de angu sobre o prato. Em seguida, acrescente o frango com o quiabo, regue-o com o molho e sirva.

Referências

FERNANDES, Caloca. Viagem gastronômica através do Brasil. 8. ed. São Paulo: Senac, 2007.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Família

Almoço servido em Santa Rita do Passa Quatro na casa da família Tomasi
19 de setembro de 2009
Duas entradas
Consomê de frango caipira
Alcachofras sicilianas
Um prato principal paulista
Farnel na trouxa de papel manteiga
Uma sobremesa
Pudim de leite
Para beber
Água gaseificada natural das fontes de São Lourenço-MG
Vinho branco Corvo
Café com doce de chocolate e doce de leite do Piran
No dia anterior
18 setembro de 2009
Atear fogo
Para acender um fogão à lenha, bote fogo em gravetos e em papel até formar um braseiro. Depois coloque as lenhas maiores. Alimente o fogo com lenhas.
Comece pelo pudim
Processe quatro ovos no liquidificador e depois misture uma fava de baunilha. Disponha de 250ml de leite da vaca mais bem tratada de sua região e continue batendo. Junte uma lata de leite condensado e bata mais uma pouco. Faça uma calda de caramelo derretendo uma xícara de açúcar até caramelizar. Adicione meia xícara de água fria e deixe cozinhar até atingir o ponto de fio. Unte uma forma de pudim com a calda. Adicione a mistura e leve para cozinhar em banho-maria não esquecendo de manter a água distante da forma do pudim. Cozinhe por duas horas em fogo brando ou até o pudim ficar consistente ao balançar a forma. Leve para resfriar até o dia seguinte. Algumas horas antes de servir, desenforme-o virando a forma em uma travessa com bordas para não derramar a calda.
Tempere o frango caipira
Tempere o frango caipira trinchado um dia antes do preparo. Pique alguns dentes de alho, um par de cebolas, um punhado de salsinha fresca e pimenta calabresa, regue com vinho italiano frascatti e depois leve à geladeira.
Dia 19 de setembro de 2009
Dedique-se ao Farnel na trouxa de papel manteiga quando o sol raiar
Aqueça um caldeirão com óleo e doure o frango caipira eliminando o tempero previamente. Pingue água para não queimá-lo. Adicione um par cebolas picadas e alguns dentes de alho, em seguida meia dúzia de tomates picados. Acrescente um pouco de sal, cúrcuma (açafrão da terra) e tampe a panela. Deixe cozinhar até amolecer o frango. Cozinhe quatro ovos e parta-os em rodelas. Retire meia dúzia de conchas do caldo para o preparo do consumê. Retire o frango da panela e desfie-o, eliminando os ossos. Devolva o frango à panela e em seguida adicione quatro linguiças caseiras fritas em pedaços. Coloque os ovos e um punhado de salsinha picada. Introduza duas xícaras de farinha de milho em flocos aos poucos até atingir o ponto de cuscuz. Disponha de um prato, e por cima de uma tira generosa de papel manteiga, acrescente o farnel e faça uma trouxa com o papel. Leve-o à mesa para os comensais se surpreenderem com o aroma quando romperem a trouxa.
Prepare o consumê
Adicione em uma panela o caldo extraído do farnel. Apure em fogo baixo juntamente com um pouco de água. Depois de 15 minutos, adicione ¼ de uma garrafa de vinho lambrusco tinto. Os ¾ restantes do vinho gelado divida-os com dois cozinheiros que estão a seu serviço. Ferva 300g de ervilhas frescas juntamente com um pouco de açúcar. Retire-as e adicione ao consumê.
Trabalhe com as alcachofras
Lave seis alcachofras e depois bata-as com delicadeza no mármore da pia. Encha um caldeirão com água, coloque um pouco de vinagre e sal. Coloque as alcachofras e deixe-as fervendo até a suas pétalas se soltarem ao puxar. Retire-as da água e coloque-as em uma tigela com água e gelo. Esquente uma caçarola, cobrindo seu fundo com um excelente azeite de oliva e um pouco de óleo de canola. Doure alguns dentes de alho, três tomates cortados em cubos e um punhado de salsinha picada. Adicione 50g do melhor aliche que encontrar. Corte o caule das flores de alcachofra e acomode-as na caçarola. Regue as flores com seu molho e deixe-as cozinhando por alguns minutos.


Compre uns docinhos do Piran
Vá até a doceria do Piran no bairro 22 de maio. Se você não souber onde fica, é só perguntar para alguém na rua. Compre três doces de leite e três doces de chocolate, sirva-os com um cafezinho passado fresquinho.

Passe o café
Passe o café em uma cafeteira Moka para seis xícaras. Escolha um café de boa qualidade do estado de Minas Gerais.
Disponha de algumas horas para almoçar e dedique-se à boa mesa. Cabe até um cochilo no final!
Felipe Tomasi

Vida e morte pela boca

“Traga-me um copo d’água tenho sede e esta sede pode me matar”.
Anastácia e Dominguinhos

A ingestão de alimentos é fonte de vida. Os homens necessitam de alimentos para se manterem vivos. Os alimentos também são consumidos por prazer, em evento social: conforme as datas comemorativas, consumimos um tipo de alimento. No natal, alguns comem peru, tender, chester, coelho, cabrito, nozes, uva passa, frutos do mar, cerejas, peixes; na páscoa, chocolate, bacalhau; no campo de futebol, cachorro quente, sanduíche de pernil, espetinho, pipoca; em festa junina, pinhão, paçoca, milho quente, curau etc.
O que é vida e comemoração de um lado, pode ser morte do outro, pois os alimentos também são tóxicos. Eles podem provocar a morte se não forem preparados da maneira correta, ou selecionados, conservardos e higienizados de um modo correto. O baiacu, por exemplo, ao ser preparado, necessita que se retire uma glândula tóxica presente nesse peixe; os cogumelos, em sua maioria, são tóxicas; a mandioca brava é altamente tóxica, pois ela necessita de 48 horas de fervura para o consumo, assim, obtém-se o caldo do tucupi; o ovo, se tomado pela salmonela, pode levar à morte; o palmito, se mal conservado e higienizado, pode causar botulismo. Daí podemos notar que os alimentos estão numa fronteira sutil entre a vida e a morte.
Selecionei, entre os exemplos acima, algumas características de alimentos que podem transformar a vida na morte:
Cogumelo
“ Os fungos grandes e comestíveis, como o “Champignon” (Agaricos) e os do gênero Amanita, com famílias extremamente venenosas, são normalmente chamados cogumelos. A grande maioria de fungos é microscópica e pouco conhecida, como bolores que colonizam os alimentos em decomposição” (KINGSLEY).
Mandioca Brava
“ Do líquido venenoso resultante do prensamento, no tipiti, fermentando ao sol e fervido longamente, obtinha-se a manicuera ou o tucupi, usados no caxiri, ou como caldo, com batata-doce, cará-roxo ou branco ou frutas, carnes e peixes, com ou sem pimenta, e no nosso tacacá” (FERNANDES, Caloca).
Os limites entre a vida e a morte são estreitos. Os alimentos, inicialmente concebidos como fonte de vida e energia, podem também matar se não consumidos adequadamente. A natureza, muitas vezes, não avisa ao homem onde é que a morte encontra-se, cabe ao homem descobrir o mistério e tentar manter sua vida. Todavia, morre-se um pouquinho por dia. Basta pensarmos que o leite, que começamos a beber no seio de nossa mãe, pode aumentar o colesterol e levar ao infarte, entupimento de veia, derrame etc. A vida é inexorável. Nascer é começar a morrer. Os alimentos, de vida ou de morte, compõem o percurso do homem.

Hora de fazer

Pernil

500g de pernil
500 ml de vinho branco seco
30g de manteiga
3 cebolas
1 cenoura
5 dentes de alho
Sal a gosto

Modo de preparo

Limpe a carne do pernil, deixando um pouco de gordura. Tempere-o com cenoura cortada em cubos, cebola, e alho picado, vinho, sal e pimenta. Deixe marinar por, pelo menos, 12 horas. Pré-aqueça o forno a 220°C. Espalhe sobre o pernil a manteiga (besuntar); cubra com os temperos. Coloque mais um pouco de sal, se necessário. Leve ao forno descoberto para assar.

Quando formar uma casca por baixo, coloque água no fundo da assadeira para obter um líquido. Vire o pernil; quando estiver dourado, cubra com papel-de-alumínio, deixe-o coberto até amolecer a carne. Retire-o e corte-o em tiras.

Referências bibliográficas
FERNANDES, Caloca. Viagem gastronômica através do Brasil. 8. ed. São Paulo: Senac, 2007.
KINGSLEY, Rebecca. Cogumelos guia prático. Tradução de Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Nobel, 1999.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
Referência do trecho da música “Tenho sede”
Disponível em:

A profissão de cozinheiro no século XIX na França

Conselho aos chefs jovens, gente jovem que ama a sua arte: tenham coragem, perseverança... esperança sempre..., não contem com ninguém, sejam seguros de si mesmos, de seu talento e de sua integridade, e tudo dará certo.
Antonin Carême

A profissão de cozinheiro no século XIX na França era glamorosa, porém desgastante. Normalmente, as cozinhas ficavam no subsolo dos palácios, já que dispor de cozinheiros era privilégio dos reis. A iluminação natural não adentrava as cozinhas, tampouco o vento. Os fogões e os fornos eram mantidos à base de carvão, o que fazia com que a temperatura das cozinhas se aproximasse à de um deserto.
Foi graças à riqueza que a gastronomia se desenvolveu na França. Ouro, prata, trufas, carnes de caça e uma quantidade exorbitante de criados. As festas gastronômicas nos palácios serviam um grande número de comensais. Destaco o cozinheiro de importância na culinária francesa no século XIX, “Antonin Carême”, o cozinheiro dos reis, como Napoleão Bonaparte. Carême destacou-se pelas suas esculturas de açúcar, conhecidas como “extraordinaires”. Essas eram expostas na vitrine de uma “pâtisserie” em Paris, e mais tarde encheu os olhos dos franceses. Como no universo gastronômico o “glamour” vem sempre acompanhado pela exaustão do cozinheiro, Carême dedicou-se à cozinha e nela padeceu, segundo um de seus relatos:

“O cozinheiro, muito frequentemente, trabalha a vida inteira no subsolo, onde um dia falto de luzes artificiais enfraquece a visão, onde condensações e resíduos aceleram o reumatismo e onde a vida é muito infeliz. Se as cozinhas são no primeiro andar e o cozinheiro mais saudável, mesmo assim, em geral, só o que vê são quatro paredes e o próprio reflexo no cobre polido, e tudo o que respira são vapores e fumaça de carvão. E aí você tem o que é a minha vida como chef!”

Toda a dedicação de Carême foi retribuída pelo reconhecimento da sua arte, que seduz as cozinhas até hoje. Um homem estudioso, autodidata; jamais entrou em uma escola, mas viveu em companhia de livros de culinária e arquitetura, aprimorando a cada dia suas esculturas feitas de açúcar. Carême era de uma família da classe operária de Paris, tinha 16 ou 24 irmãos; os relatos não conseguiram precisar. Em meio da Revolução Francesa, perdeu-se de seus entes. Foi criado por um cozinheiro e depois teve a mão estendida de um amigo, talvez o único, Charles Maurice de Talleyrand-Périgord, que o levou aos lugares altos da Europa, propiciando ao chef Carême uma carreira brilhante, reconhecida pelo reinado da França, Inglaterra e Rússia.
Marie Antoine Carême (1783-1833) morreu intoxicado pela fumaça do carvão, assim como outros cozinheiros de sua época. Um homem que tinha dificuldade de se relacionar com as pessoas, mas não com as panelas.

Hora de fazer

Plombière de Nectarina

Reserve algumas nectarinas perfeitas para guarnecer.
Ferva 15 nectarinas descascadas e firmes com 170g de açúcar até formar uma geleia. Passe numa peneira. Deixe esfriar. Coloque quatro gemas, uma colher cheia de farinha de arroz (mucilon) e três copos de leite integral cremoso (quase fervendo) numa panela. Misture à baixa temperatura com uma colher de pau. Quando a mistura engrossar, retire do fogo, mexa até ficar bem homogênea e então deixe em fogo brando, mexendo sempre, delicadamente, até obter a consistência de pudim. Adicione, então, quatro colheres de sopa de açúcar de confeiteiro e uma pitada de sal. Passe para um recipiente grande, junto com a geleia resfriada, e ponha para gelar. Na hora de servir, misture um “prato cheio” de creme de leite batido de consistência firme. Sirva num pedestal de prata, no formato de uma montanha, ou em forminhas de “vol-au-vent” carameladas, ou em taças feitas de marzipã.

Antonin Carême


Referências bibliográficas

KELLY, Ian. Carême: cozinheiro dos reis. Tradução de Marina Slade Oliveira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

A cozinha clássica francesa e a nova cozinha brasileira

“Ser criativo é também saber apresentar algo que você sempre comeu de um jeito totalmente inusitado.”
Alex Atala

Existem variados elementos da cozinha francesa que são utilizados também em nosso país. Entre eles, destaco técnicas utilizadas na preparação de alimentos, bem como molhos, suflês, sopas, carnes de caça, tortas.

O século XX é marcado pela chegada de “chefs” franceses ao Brasil, que aqui vieram para estabelecer a culinária francesa. É de destacar, porém, que a cozinha brasileira já conhecia produtos e técnicas franceses. Alguns nomes de destaque são: Claude Troisgros, Loran, Emmanuel Bassoleil entre outros. Com a chegada do novo milênio, a cozinha brasileira, além das técnicas e produtos franceses, passou a contar também com produtos nacionais. Esse movimento da cozinha contemporânea brasileira é atribuído ao “chef” brasileiro Alex Atala e seus colegas franceses citados anteriormente.
Para exemplificar a influência da cozinha francesa sobre a culinária brasileira, especialmente a cozinha de Alex Atala, vejamos um trecho do livro Escoffianas brasileiras, em que o “chef” justifica o preparo de uma iguaria utilizada na França no século XVI:

Pode parecer esquisito para nós comer crista de galo, mas é importante lembrar que no século XVI elas eram consideradas iguarias finíssimas. Vários chefs vem recuperando esse ingrediente. As cristas não são saborosas, no entanto propõem uma textura e uma gelatinosidade incríveis.


A gastronomia demonstra, através do tempo, um trabalho contínuo, em que as receitas são aprimoradas e o clássico nunca é esquecido. Alex Atala apoiado na culinária clássica executa releituras de pratos; e, consequentemente, produz novidades em benefício da culinária brasileira. Podemos citar a releitura de um prato clássico da cozinha francesa criado por Atala, o “ratatouille.”

Esse prato francês consiste em: abobrinha, beringela, tomate, cebola, alho, salsa, sal, pimenta-do-reino e azeite. Atala desenvolveu o “ratatouille” do sertão brasileiro: abóbora, batata-doce, chuchu, banana-da-terra, jiló, abobrinha caipira, maxixe, quiabo, pimenta dedo-de-moça, óleo, sal, pimenta-do-reino, coentro, beldroega e manteiga de garrafa.
Alex Atala adaptou um prato popular da França, utilizando ingredientes brasileiros com técnicas de preparo semelhantes à francesa. O toque final dos franceses para essa receita é o azeite; Atala o substitui por manteiga-de-garrafa! Genial!
Uma cozinha não se desenvolve partindo do grau zero. A história é sempre necessária para o progresso da humanidade.

Hora de fazer

Ratatouille do sertão

Alex Atala


100g de abóbora
100g de batata-doce
100g de chuchu
50g de banana-da-terra
50g de jiló
50g de abobrinha caipira
4 maxixes
50g de quiabo
1 pimenta dedo-de-moça
Óleo de canola a gosto
Sal a gosto
Pimenta-do-reino a gosto
8 folhas de coentro
Beldroega a gosto (erva comestível, rica em ácido salicílico, nativa do Brasil)
1 colher de sopa de manteiga de garrafa (manteiga líquida, vendida em garrafa)


Descasque a abóbora, a batata-doce, o chuchu, a banana-da-terra e o jiló e corte-os em cubos médios. Reserve. Retire os cabelos dos maxixes e lave-os bem. Corte três deles em pedaços de 1.5 cm e o quarto, em quatro gomos. Cozinhe-os em água com sal por um minuto, resfrie-os em água com gelo, escorra bem e reserve. Corte os quiabos em rodelas. Corte a pimenta em rodela fina (utilize uma luva ou hipermeabilize as mãos com óleo para não queimar a pele). Em um frigideira antiaderente bem quente, com um fio de óleo, toste um a um todos os legumes dos dois lados até ficarem bem dourados e macios. Coloque os legumes, incluindo os gomos de maxixe e a pimenta dedo-de-moça em uma assadeira e tempere com sal e pimenta-do-reino. Esquente-os novamente no forno a 180 graus por 2 minutos.


Bibliografia

ATALA, Alex. Escoffianas brasileiras. São Paulo: Larousse, 2008.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

241 km por hora de estômago vazio

Sábado, 16 de maio de 2009, da capital paulista para Santa Rita do Passa Quatro... não costumo usar relógio, mas era umas sete da noite quando dei um tchauzinho para a Marginal Tietê. Estrada repleta de restaurantes fast-food [aviso aos leitores que, mesmo assim, eu resisti a tentação]... destino Km 241... Santa Rita... fome doida!
O assalto à geladeira da minha mãe é rotina. Só que dessa vez sem relógio e sem a rotina dei de cara, na entrada da cidade, com um restaurante! Será que era a fome ou o sono? Será que eu tinha entrado na cidade certa? E era! O Sanatório estava lá para me chamar para a realidade.
Cantina? Mesas espaçosas: privacidade do cliente preservada! O cardápio grande como o Alcorão. Se o cliente for de Gêmeos, vai ser duro para ele escolher um prato. Pena me deu dos cozinheiros. Ou não? Uma agradável surpresa: vinho francês ! Eba ! Melhor ainda: bom preço! Não hesitei... e a garrafa veio correndo pra minha mesa. Vinho e pizza. No Brasil, dá certo. Se fosse na Itália, a boa companhia para a pizza seria a loura gelada... acorda, amor... de volta à Santa Rita: perguntei para garçonete se a pizza ia sair rápido. Sim, senhor! Rapidíssima, senhor. Dois palitos. Então vamos lá: meia calabresa, meia portuguesa, por favor.
Dois, três, quatro palitos e algumas taças de vinho. Ritual de bêbado. Cliente é cliente: cheio de manias. Ainda bem que meu pai ficou em casa. Acendi um cigarro. Dois. Saí da pizzaria, fui no posto comprar um outro maço. Será que eu tinha pedido mesmo? Ou eu já estava dormindo acordado?
Cigarros depois, a massa estava crocante nas bordas e um pouco crua no meio. Temperatura do forno errada? A sequência das emoções passaram como nos filmes de Almodovar: dó do cozinheiro, impaciência para esperar, saudade da geladeira da minha mãe, raiva de mim e terminei com dó do meu pulmão [haja cigarros!] Cardápio grande: bom para o cliente [menos para os indecisos], mas duríssimo para o cozinheiro e para o ouvido do garçom. Mas valeu! O vinho estava ótimo.

Quero agradecer meu irmão Felipe Tomasi pelo convite para criar esse conto. Na verdade, esse conto vem de uma ideia dele. O parceirinho fez a música e eu a letra.
Arrebentei meu joelho na Itália em julho e lá fui carinhosamente cuidada pela minha mãe Luigina, outra parceirinha, companheira, de riso-choro. Fizemos várias receitas nesse meu tempo de ócio. Uma delas vamos publicar aqui. Essa é para você, mamma!

Hora de Fazer

Salada de arroz arbóreo (quem não tem cão pode caçar com gato: arroz comum)

1 xícara de arroz arbóreo
200 g de ervilha fresca
1 lata de atum
200 g de azeitona preta
1 lata de milho
200 g de queijo minas ou mussarela ou bufala ou cabra

Ferver durante 15 minutos o arroz como se ferve macarrão (colocar um punhado de sal grosso quando a água ferver). Coar o arroz como se fosse macarrão. Colocar azeite e juntar todos os ingredientes acima. Bom apetite!


Carolina Tomasi
E-mail carollausp@hotmail.com

Alguns utensílios que podem auxiliar o cozinheiro

“Faca de dois gumes: tudo o que tem caráter duplo e ambíguo.”
Antonio Houaiss

“Faca de dois legumes.”
Vicente Matheus

O cozinheiro não necessita de uma cozinha cheia de balangandã, coleções enormes de panelas, jogos de facas, forno grande, médio e pequeno e blá blá blá. Porém alguns instrumentos de trabalho são essenciais para o funcionamento de uma cozinha, seja doméstica ou profissional. Os equipamentos de uma cozinha devem ser coerentes com relação as preparações. Se na sua cozinha não é preparado moqueca, para que comprar uma moquequeira? As ofertas muitas vezes são atraentes, seja na Internet, televisão, rádios e ruas.
Olha a faca! Esse instrumento é importante, mas três facas bastam para um cozinheiro: faca de cortar legumes, faca chef e faca de serra. A primeira é uma faca pequena de corte, como o nome diz, serve para cortar legumes, ou descascá-los. A segunda também é uma faca de corte, porém grande. É utilizada principalmente para corte de carnes, e para as demais preparações em uma cozinha. Para cortar, necessitamos de uma faca afiada e um movimento único em direção ao alimento. É bom lembrar que as facas sem fio são as que podem cortar os dedos. Tenha uma pedra de amolar ou leve as facas para um profissional amolar. A terceira não é para cortar, e sim para serrar! Fazer um movimento de vaivém. É utilizada para corte de pães e massas. Para cortar ou serrar, devemos utilizar uma tábua, não devemos cortar alimentos sobre a pia ou sobre o prato. As tábuas podem ser de madeira ou de plástico (o melhor é de polietileno) branco. Todas devem ser higienizadas através de uma solução de água e cloro, você pode colocá-las em em um balde e mergulhá-las na solução preparada. Para a segurança do cozinheiro, a tábua deve ser colocada sobre um pano umedecido ou papel umedecido; para não deslizar e causar acidentes.
As panelas são como as camas! Nelas os alimentos se reproduzem e descançam! Algumas delas são essenciais: duas frigideiras espessas de aço inox, uma grande e uma pequena. Uma caçarola de aço inox espessa e grande, e uma pequena. Dê preferência para as panelas e caçarolas com cabo de inox, pois algumas preparações necessitam ser finalizadas no forno, desse modo o cozinheiro não precisa gastar tempo transferindo o alimento para uma assadeira ou algo parecido; e fica charmoso servir a comida em panelas e caçarolas. As panelas espessas de aço inox, são importantes para: cozer os alimentos por igual; manter a temperatura por mais tempo e não grudar o alimento.
As assadeiras são essencias na cozinha; tenha uma grande e uma pequena. Assim como as panelas, as assadeiras devem ser espessas. Senão, podem queimar os alimentos e entortar com a variação de temperatura. As formas para bolos e pães também são necessárias.
Alguns utensílios para ficar ao lado do fogão são importantes: colher de pau, pinça, escumadeira, concha, batedor de arame (fuet), espátula, pegadores de panela ou panos umedecidos. Utensílios importantes em suas gavetas: ralador, rolo de macarrão, pincel de cozinha, pão duro (espátula de silicone), saca-rolhas, potes plásticos para armazenar alimentos, peneira e tesoura. Aparelhos úteis: processador de alimentos, liquidificador e microondas.
Agora os cozinheiros atenciosos não tem desculpa para não cozinhar! Qualquer atitude avessa é preguiça!

Hora de fazer

Arroz de puta rica
4 fatias de toucinho defumado
2 colheres de sopa de azeite
1 gomo de linguiça calabresa fresca em rodelas
2 coxas e sobrecoxas de frango cortadas a passarinho (pedaços pequenos)
300g de carne-de-sol dessalgada, cortada em cubos
1 linguiça defumada
6 costelinhas de porco defumada
3 dentes de alho amassados
3 xícaras de arroz lavado e escorrido
Sal e pimenta a gosto
6 xícaras de água fervente
1 xícara de milho em conserva ou fresco cozido
1 pote de palmito em conserva
1 xícara de ervilha em conserva ou fresca cozida
½ xícara de azeitona verde picada
½ xícara de uvas passas

Numa panela grande junte o toucinho e o azeite e leve ao fogo alto, mexendo até dourar. Acrescente a linguiça fresca, os pedaços de frango e a carne-de-sol e deixe dourar, mexendo sempre. Adicione a linguiça defumada em rodelas, as costelinhas e o alho. Deixe fritar levemente, junte o arroz e refogue por três minutos. Cubra com água fervente, tempere a gosto com sal e pimenta, tampe parcialmente a panela e cozinhe em fogo brando, até as carnes ficarem macias. Se preciso acrescente mais água fervida aos poucos. Adicione o milho, o palmito cortado em rodelas, a ervilha, a azeitona e as passas, misture e sirva em seguida.

Referências
FERNANDES, Caloca. Viagem gastronômica através do Brasil. 8. ed. São Paulo: Editora Estúdio Sonia Robatto, 2007.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
RUHLMAN, Michael. Elementos da culinária de A a Z: técnicas, ingredientes e utensílios. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

Galinha, galinhada, galinha-da-guiné

“O aspecto da galinha d’angola lembra o da perdiz: escandalosa e insolente por natureza.”
Alexandre Dumas

A galinha é uma ave utilizada na culinária mundial. É preparada cozida, frita, ensopada, desfiada, grelhada, e de muitas outras maneiras. Apanhei trechos de alguns verbetes relacionados à galinha no Dicionário Houaiss da língua portuguesa.
Galinha: fêmea do galo, diz-se de ou indivíduo que varia facilmente de parceiro amoroso ou sexual. Galinha caipira: galinha sem raça definida, criada solta. Galinha choca: pessoa irrequieta, doentia, medrosa ou imprestável. Galinha cabidela: galinha cozida, aos pedaços, em molho preparado com o seu caldo, seu sangue avinagrado e um pouco de farinha de trigo; também conhecida como galinha ao molho pardo. Galinhada: quantidade de galinhas. No uso culinário, iguaria preparada com arroz, frango desfiado, cenoura e ervilha. Galinha-da-guiné: também conhecida como galinha d’angola.
Lembrando da galinha d’angola: estou fraco, estou fraco, estou fraco... Precisamos comer algo! Vamos para a receita!

Hora de fazer

Galinha guisada ao molho de vinho

Galinha
500g de coxa e sobrecoxa de galinha
1 cebola
4 dentes de alho
Salsa, cebolinha, sal e pimenta branca a gosto

Molho
1 cebola
3 dentes de alho
Um pouco de óleo vegetal
Salsa, cebolinha, sal e pimenta branca a gosto
800 ml de água mineral
150 ml de vinho tinto seco
1 colher de sopa de farinha de trigo

Tempero da galinha

Separe a coxa da sobrecoxa (para facilitar, romper os ligamentos entre os ossos da coxa e da sobrecoxa: como luxação!); tempere os pedaços do frango com alho, cebola, salsinha, cebolinha, sal e pimenta branca. Deixe a galinha no tempero em uma vasilha coberta com papel-filme, por 12 horas na geladeira.


Numa panela, aqueça bem um pouco de óleo e coloque os pedaços de frango. Vire-os de todos os lados até ficarem dourados; acrescente a cebola e o alho e deixe dourar. Coloque 1/4 da água e deixe apurar. Adicione o vinho e o restante da água aos poucos, sempre até a metade da galinha, nunca cobrindo a galinha, senão será um ensopado e não um guisado, objetivo desta receita; acerte o sal e a pimenta. Cozinhe até a galinha começar a ficar macia; então, coloque a farinha de trigo peneirada para engrossar o molho, e deixe apurar por 10 minutos.

A galinha pode ser servida com arroz e batata assada; espaguete ao alho e azeite; polenta, entre outros. Para beber, um vinho branco seco.

Curiosidades

Guisar: cozinhar em líquido, sempre com a água até a metade da peça cozida. O guisado possibilita a cocção de alguns alimentos. O alimento é servido no próprio molho sem coar.

Referências Bibliográficas
CREMA, Carole; KÖVESI, Betty; MARTINOLI, Gabriela; SIFERTT, Carlos. 400 g: técnicas de cozinha. São Paulo: Nacional, 2007.
DUMAS, Alexandre. Grande dicionário de culinária. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janerio: Objetiva, 2009.

Um bom lugar para comer com os amigos

“Criação: ação humana de dar existência ao que não existe.”
Antonio Houaiss

Sair da capital Paulista, em um fim de semana, parece ilusão. As pedras no caminho não param de rolar e, ao passar pelo aeroporto internacional de Guarulhos, avistei um imenso presídio. Há pouco quem estava preso era eu (o trânsito era insuportável); daí rapidinho me senti livre como uma galinha de angola... As montanhas da serra da mantiqueira se aproximavam, tive a impressão de assitir a um filme de Holywood... me senti um caubói, mas as placas da estrada anuciavam queijos frescos... Opa! Cheiro de Minas Gerais. O coco gelado a dois reais me atraiu, estacionei o carro, entrei no mini-mercado, mas não havia coco ali: só queijo... pura realidade: eu estava nas montanhas.
Passado o momento lisérgico do verde apenino, retomei a consciência: 12h30min. Meus amigos me esperavam para dar alimento a seus corpos e a suas almas: duas coisas difíceis de se nutrir! Depois da recepção gelada (cerveja original no copo), fomos procurar um restaurante. Demos um giro pelo vilarejo e foi difícil escolher um lugar. Leitor, você deve estar achando que não tínhamos opção para comer... engano seu! Impressionante a gastronomia local: restaurante com a qualidade paulistana, sem nenhum preconceito nessa minha manifestação. A nova cozinha caipira estava debaixo dos nossos olhares... não podíamos acreditar. De dez restaurantes, oito eram de cozinha caipira moderna e dois eram bistrôs franceses. Que maravilha: carne de porco, cachaça, ratatouille, croissant, café e macaron!
Esconder-se nas montanhas era o segundo objetivo do fim de semana. Água da bica para hidratar, rede preguiçosa para deitar, cural para adoçar a boca e café para acordar: café de moca. Tínhamos um encontro marcado com um cabloco que se chamava Zé Mané, de Mané o cara não tinha nada, nadinha. Esperto feito uma galinha caipira. Esse sujeito foi quem pegou a galinha para o nosso jantar. Nunca vi alguém tão íntimo dos bichos! Ele jogava um bocadinho de milho no terreiro e tinha todas as galinhas em sua mão! Ele trouxe uma galinha apenas, conforme o combinado; ela estava amarrada pelas patas. O bicho pesava 1,5 Kg e era bonitinha a danada. Amarradinha pelo pé em um varal... coisa de cinema (Tarantino)... ele torceu o pescoço dela, elegantemente! A criação é divina! O homem cuida do animal, fica íntimo dele e, por sedução, o põe na panela... Isso é que é manipulação!

Hora de fazer

Galinha de cabidela
4 colheres de sopa de vinagre
Galinha viva (cerca de 2 kg)
1 cebola grande picada
2 colheres de coentro
½ colher de chá de cominho
2 dentes de alho amassados
½ colher de chá de pimenta-do-reino
Sal a gosto
2 colheres de banha de porco ou óleo vegetal
1 colher de sopa de farinha de trigo

Deite o vinagre em prato. Sangre a galinha, cortando-a no pescoço e deixe o sangue cair no prato com o vinagre. Depene a galinha mergulhando-a na água fervente e retirando suas penas. Depois de depenada, passe-a pela chama do fogão. Abra a galinha e corte-as em pedaços, deixe somente a carne e os miúdos: moela, fígado, e até o coração. Lave-a com limão em seguida. Ponha-a em uma tigela com a cebola, o coentro, o cominho, o alho, a pimenta e sal a gosto. Deixe descançando por 2 horas no mínimo. Numa panela, aqueça a banha em fogo alto, junte os pedaços da galinha e refogue até dourar. Regue-a com água quente e cozinhe-a até ficar macia. Dissolva a farinha de trigo em um pouco de água, junte o sangue reservado e mexa bem. Despeje sobre a galinha com o molho fervente, tampe e cozinhe por 1 minuto. Tire do fogo e sirva.

Quem não janta em casa come acepipe!

“Nunca fiz amizade em uma leiteria.”
Vinicius de Morais


Quem não tem cão caça com gato. Quem não janta em casa janta no bar. As pessoas estão trabalhando demais no novo milênio; consequentemente, têm menos tempo para se ocupar com os afazeres do cotidiano. Preparar o próprio prato requer tempo, prazer em cozinhar, talento, perseverança e algumas coisinhas a mais: cortar o dedo na faca, se queimar, errar e o lixo agradece...
Os bares são uma ótima opção para comer. Estão repletos de garçons dispostos a servir, cheio de pessoas para conversar e paquerar, comidinhas e bebidinhas é claro! O cardápio do boteco é bom para todos; as frituras, para os desapegados à estética; as verduras, para os anoréxicos; os assados, para os elegantes. Os bares de hoje também trazem novidades gastronômicas e muitas! Em São Paulo e em Belo Horizonte, têm até uma competição de comidas de boteco a fim de inovar o cardápio dos bares.
Um amigo, o Waldomiro, me disse: “comi uma lula inacreditável em um bar!” Não é de se duvidar! Os bares elaboram pratos refinados e até uma pururuquinha, que não é fácil de preparar.
A higiene dos bares é peculiar: cada um com a sua! Outro amigo, o Luís, me disse: “fui em um bar e o garçon me trouxe um salgado com o mesmo pano de limpar o balcão e as mesas!” Ele me garantiu que o salgado estava ótimo... o gosto também é peculiar, um gostinho de pano sujo!
Quem não chora não mama! Ir a um boteco é quase obrigatório pedir uma saideira. Depois de tomar a última, ainda têm o chororô para pagar a conta... “que nenhum dono de bar me ouça”. Sem contar que você, meu leitor, deve estar até agora com a pulga atrás da orelha para saber que diabos é acepipe. Vamos lá... já que eu pus no título tenho que explicar. Segundo Houaiss (2009): “aperitivo, petisco, qualquer comida bem feita e apetitosa, pitéu”... um piteuzinho levanta até o humor. Então, cada um que busque seu acepipe em vez de fazer janta quando a preguiça bater.
O bar é ambiente de conversa, comida, bebida, informalidade, pessoas bonitas, descuidadas, dá de tudo, uma diversão... Meu amigo Navarro me diz que o “bar é a maior fauna brasileira”.
A cada bar uma surpresa! Se você esquecer o dinheiro embaixo do colchão, pendura... e até mais ver! Até a próxima coluna se eu não me perder em um barzinho...

Dicas para a boa cerveja:
Tem que ser gelada, - 4 C°.
Servida em copo americano.
Se o copo for do tipo tulipa, é chope!
Amigos para beber de bem com a vida. Depressivos jamais!
Sede.

Lambaris fritos

1 Kg de lambari
Sal e pimenta a gosto
1 ½ xícara (chá) de fubá de milho
1 xícara (chá) de farinha de trigo
Óleo para fritar

Tempere os lambaris previamente limpos, com sal e pimenta e deixe descansar. Passe-os pelas farinhas (farinha e fubá) e bata-os levemente para tirar o excesso delas. Coloque bastante óleo em uma panela e aqueça em fogo alto. Frite os peixinhos até ficarem dourados. Escorra-os e deixe-os secando em papel-toalha. Sirva-os quentinhos.

Lambari

“Peixe de pequeno porte, comum nos rios brasileiros. Utilizados na alimentação em regiões do interior.”

Referências

FERNANDES, Caloca. A culinária paulista tradicional nos hotéis Senac São Paulo. São Paulo: Senac, 1998.

HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Passeio público

“Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo.”
Chico Buarque


Olá, caro leitor, venho por meio desta coluna informá-lo sobre o que estão comendo aqui na Terra... comidas de rua como: churrasco grego, milho cozido, espetinho de “gato”, sanduíche de pernil, pastel, yakissoba, amendoim no cone, pipoca, marmita com arroz, feijão, fritas e bife etc.
Toda essa comida, certamente, é defumada pela fumaça dos automóveis, opa! Quem sabe surgiu uma nova técnica de cozimento de alimentos! Um dia desses, caminhando pela cidade, imaginei as comidas de rua dentro de um restaurante. Pensei em estabelecimento com uma decoração urbana: a arte do grafite estampada nas paredes, placas de rua orientando o caminho do banheiro etc. Acho que foi mais um desvario, embora acredite que a alimentação de rua está cada vez mais presente no cotidiano, afinal, vivemos mais tempo na rua do que em casa!
Às vezes, vou dormir, e acho que escuto o vendedor de pamonha (pamonha, pamonha fresquinha, pamonhas de Piracicaba). Eu devia escutar mais o meu psiquiatra! E têm mais, olha o ameim... doim! Saudades daquela voz que me convidava a comer quando eu era garoto.
Cozinhar na rua não demonstra falta de qualidade na preparação do alimento. Na feira-livre do estádio municipal do Pacaembu é onde se come o melhor pastel da cidade, na calçada da rua Augusta, em frente a uma sala de cinema, há uma pipoquinha deliciosa. Na região central de São Paulo, muitas pessoas se alimentam muito bem na rua; todo dia passa o carrinho do ambulante, servindo: arroz, feijão, bife, batata frita e salada. Seria bom trocar o saco de salgadinho por proteínas, fibras e carboidratos. Mesmo estando na rua, geralmente, a comida servida é boa.
Presto minha homenagem a todos os que se dedicam a cozinhar para quem está passando, e se a comida for boa, o cliente toma o metrô e volta para comer de novo!


Hora de fazer

Pamonha de milho verde
12 espigas de milho
1 xícara de chá de água
2 xícaras de chá de açúcar

Descasque as espigas e reserve as cascas. Retire o cabelo do milho. Rale as espigas e retire os pedaços de milho que restaram na espiga com a ajuda de uma colher. Coloque a água em uma tigela e lave os sabugos. Aproveite a água medida e junte o milho ralado e o açúcar à água, e misture bem. Afervente as palhas de milho até ficarem macias. Descarte as palhas externas, pois são muito duras. Junte as extremidades mais largas da palha, de maneira que fiquem sobrepostas, formando um retângulo. Adicione uma colherada da mistura de milho no centro do retângulo. Dobre as laterais até formar um pacotinho. Amarre-os com uma tira de palha ou com um barbante, se preferir. Numa panela grande, com bastante água fervente, coloque as pamonhas na água e deixe-as por uma hora. Tire-as do fogo e escorra-as. Mantenha as pamonhas aquecidas no vapor e sirva-as quentinha.

Referências

FERNANDES, Caloca. A culinária paulista tradicional nos hotéis Senac São Paulo. São Paulo: Senac, 1998.

HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

O dia em que a terra rodou!

“O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar.”
Raul Seixas e Claudio Roberto

Santiago do Chile, 27 de fevereiro de 2010.

O bairro de Santa Lucía silenciou na madrugada. Os boêmios viram seu copos estilhaçados no chão. Meu leito sacudiu, me enrosquei no lençol, sem nenhum aviso: a terra girou. Parecia um sonho, mas o tremor me acordou, meu corpo chacoalhava do cox até o pescoço. Os hópedes da casa velha em que eu estava desceram a escada como cavalos galopantes, muitos sós com a roupa de baixo... por sorte, havia um parque em frente à hospedaria! Segundo os chilenos, era um lugar seguro, não tinha teto não tinha nada que desabasse sobre as nossas cabeças. Fomos, então, para rua, nus com as mãos no... Ah! não havia bolsos.

O dia amanheceu nebuloso, pensei em passar a vista no jornal para saber o que havia pertubado o meu sono, mas o entregador dos periódicos não passou por lá. Os estrangeiros que ali estavam, inquietos, murmuravam os possíveis acontecimentos da madrugada anterior. Queríamos saber afinal o que havia nos aterrorizado.

O corpo vazio não para em pé. Antes que a energia acabasse, corremos em busca de comida. O bairro de Santa Lucía é gastronômico e é evidente que é um bom lugar para desfrutar um almoço, mas as coisas não correram como imaginávamos. Tudo estava fechado. O restaurante preparava as deliciosas reinetas, peixe típico da costa chilena; a pequena venda servia empanadas assadas; o resto-bar (nome dado a restaurantes e bares do Chile) vendia a melhor cerveja do país: a Kustamann. Isso segundo a opinião da pessoa sedenta que vos fala.

Depois de horas caminhando pelos escombros da capital, encontramos uma tenda que vendia bebidas, cigarros e salgados industrializados. Na hora do apuro, esses suprimentos nos salvaram. Embora a recomendação fosse contrária, a atitude tomada pelo grupo foi outra: voltamos à hospedagem. As paredes rachadas podiam desabar! Estávamos alertas, e, a qualquer tremor, desceríamos novamente... desta vez com as mãos no bolso.

Queríamos celebrar a vida e despedirmo-nos... por enquanto! Dez garrafas de vinho: 3 brasileiros, 2 japoneses, 3 espanhóis e 2 americanos: a medida certa para um dia de temor! Alguns maços de cigarro, risos, abraços e hinos nacionais... A terra chacoalhava novamente, mas estávamos despreocupados. HEINEIKEN: era o hino que celebrou a vida de um grupo ainda jovem que têm motivos para comemorar!

Dedico à memória dos mortos pelo terremoto no Chile no dia 27 de fevereiro de 2010.

Marcha de quarta-feira de cinzas

“Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.”
Vinicius de Moraes e Carlos Lyra
Chegou o dia da festa profana! É Carnaval... hoje, temos motivos para nos embriagarmos. “De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.” Palavras do poeta maldito, Charles Baudelaire.
Carnaval é festa para comer sofregamente ou muito, é a fuzarca do glutão, do comilão, daquele que se entrega à comilança. É necessário beber também; ajuda a deslocar o bolo alimentar da boca para o estômago. Abre alas que eu quero passar!
De tanto beber sem pensar... parei... não de beber, de pensar em parar de beber. Meu amigo Navarro me contou uma lembrança de sua infância. Quando ele era pequeno, foi a um botequim comprar balas, viu um homem tragar um copo de cachaça, e em seguida fazer uma careta. Meu amigo, inconformado, perguntou ao homem: por que o senhor faz careta quando bebe isso? O homen respondeu: é porque eu não gosto do sabor, gosto da tonturinha que me dá depois.
Jogue fora o seu macarrão instantâneo nesse carnaval. Faça um grandioso churrasco, que comece no sábado e acabe nas cinzas da quarta-feira. Não esqueça de triturar a carne com os dentes antes de engoli-la, enfim, é carnaval! É preciso manter o álcool longe da brasa da churrasqueira e perto do seu copo. Copo vazio não para em pé, aliás, copo vazio está cheio de ar! Salve Chico.
Desejo a vocês, leitores, samba de breque, samba de enredo, samba de matuto, samba de morro, samba de partido alto, samba de roda e samba em Berlim, este último não é proveniente do samba, é uma bebida que mistura refrigerante de cola com cachaça.
Falta calma nessa hora, já passou o bloco do fuxico, o da banda redonda, vai passar o bloco dos acadêmicos da baixa Augusta. Vou retocar a minha maquiagem, vestir a minha saia e partir...

Hora de fazer

Picanha na brasa

Uma peça de picanha (1,1 kg a 1,3 kg) É muito importante a picanha não exceder 1,3 kg; se passar disso, venderam gato por lebre!
Sal grosso a gosto
1 saco de carvão
1 pão francês
1 lata de cerveja vazia
Álcool líquido (92,5%)

Coloque o saco de carvão inteiro na churrasqueira. Faça uma cavidade no meio. Corte a lata de cerveja ao meio e dispense a metade de cima. Coloque álcool na lata e embebede o pão, coloque-o na cavidade e cubra com carvão. Ateie fogo. Abane o fogo até o carvão formar um braseiro. Antes de colocar a carne na grelha, polvilhe a brasa com as cinzas que restaram do churrasco anterior. Esse procedimento protege o braseiro da gordura, ou seja, quando pingar a gordura da picanha na brasa, o fogo não subirá, o que queimaria a carne. Envolva a peça de picanha no sal grosso e deixe-a descansar por 5 minutos. Retire o excesso de sal grosso e coloque a peça na grelha. As peças grandes, como a picanha, devem ficar distantes do braseiro, para assar lentamente. As peças pequenas, como bifes, devem ficar mais próximas do braseiro, para assar rapidamente. Retire fatias da picanha da ponta para dentro, conforme for atingindo o ponto de sua preferência. Não se esqueça, a maior riqueza da carne bovina é o sangue! Mantenha-o na carne, assando-a por pouco tempo.


Referências

GABRIEL, Carlos. O sabor do churrasco. São Paulo: Melhoramentos, 2005.

HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Comidinhas para um domingo de clássico

“Para Mané para Didi para Mané, Mané para Didi para Mané para Didi para
Pagão para Pelé e Canhoteiro”
Chico Buarque

Domingo é dia do esporte bretão no Brasil! Muitos param para assistir o time do coração jogar. É dia de macarronada também, assim diz a tradição. Como conciliar as duas paixões? É melhor ir ao estádio de futebol assistir ao time do coração, haja vista que podemos trocar de emprego, de comida e até de mulher, mas de time não! Para resistir à macarronada da “mamma”, vale a pena sair mais cedo de casa para não sentir o perfume do molho... depois que o molho exala pela casa... hum.. não adianta mais sair!
Nos estádios brasileiros, come-se de tudo um pouco. Assim é o Brasil: diverso e saboroso! Lá no mineirão, em dia de rixa de”galo e raposa”, tem um tutu à mineira delicioso, servido em um pratinho de plástico, caindo comida pelas bordas. E como é de esperar... baratinho... ah! A comida mineira é realmente boa e barata! No Maracanã, o espetáculo é o “Fla x Flu”, mas a sardinha na brasa e a cerveja gelada são os protagonistas do show. Na Bahia de Cayme e João Gilberto, o grande jogo é o “Ba-Vi”: Bahia x Vitória. Quem rouba a cena é o acarajé e o abará. Você já foi à Bahia? Não! Então vá nega, então vá! Você precisa ir à São Paulo também! Imagine o Pacaembu em dia de domingo? Parece um formigueiro de tanto alvi-negro. Se o jogo for “Curintia”(como falam os manos) X Palmeiras, a pedida é sanduíche de pernil! Vamos comer os porcos! São deliciosos... Já se o jogo for no estádio Palestra Itália, a boa é uma pizza de (frango) ou de galinha preta... assim os corintianos são reconhecidos por seus adversários em São Paulo! Ah! Vá no boteco alvi- verde, na rua Turiaçu, a pizza é a melhor!
O fato é que o futebol é “pão e circo”! Um grande espetáculo futebolístico e gastronômico. As pessoas se relacionam, às vezes, violentamente, mas a maioria dos relacionamentos em estádios de futebol é sadia e prazerosa. Quando o time do coração marca um gol aos 46 minutos do segundo tempo, a reação é abraçar o primeiro desconhecido que está ao seu lado e dividir o pacote de amendoim que está na mão!
Meu amigo Navarro me disse que, quando ia ao Pacaembu com o seu pai, era sempre emocionante... o pai dele sumia no meio da torcida, voltava para casa sem os óculos, bêbado e gritando “salve o Curintia”.
Você já foi a um estádio de futebol? Não? Então vá... então vá.


Hora de fazer

Arroz Biro-Biro
2 xícaras de arroz cozido
50g de bacon
50g de batata palha
1 colher de sopa de manteiga
2 ovos
1 colher de sopa de manteiga
Sal e salsinha a gosto

Deite o óleo em uma panela e deixe aquecer. Junte o bacon picado. Deixe fritar até soltar a gordura. Quebre dois ovos e acerte o sal. Mexa bem e misture o arroz e a salsa. Misture a batata palha. Sirva quentinho.

Homenagem

Essa versão do arroz Biro-Biro é do Chef Allan, proprietário de restaurante e apresentador do “Manhã Gazeta”. Vale conferir: as receitas são boas e o chef é uma comédia.

Comidinhas para depois...

Para viver um grande amor
Conta ponto saber fazer coisinhas
Ovos mexidos, camarões, sopinhas
Molhos, filés com fritas, comidinhas
Para depois do amor
E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha
Para o seu grande amor?
Vinicius de Moraes

O poeta Vinicius de Moraes não deixava as suas comidinhas para lá... Vinicius, pai de nove filhos, necessitava alimentar-se bem para cumprir as obrigações que não lhe eram poucas. Até música para a feijoada Vinicius dedicou. Feijoada à minha moda (a moda do poeta era beber e não cozinhar), embora soubesse o modo de preparo de uma excelente feijoada, pois assistia ao seu cozimento tomando uísque “on the rocks”.
O tempero da vida está relacionado aos encontros. Têm dias que me levanto não querendo cozinhar, mas, ao primeiro convite para uma conversa fiada, logo me animo e ponho a galinha para assar. São incalculáveis as vezes que pensei em recusar uma conversa e uma comidinha. Ah! Se tivesse sido tomado pela preguiça, não teria comido nada e nem ninguém...
Às vezes, eu fico pensando na vida e, sinceramente, eu vejo a saída: corro para o bar e só depois retorno ao lar. A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nessa vida. Se Vinicius de Moraes tivesse recusado o convite da Maria Bethânia para beber um chopinho em Ipanema, ele não teria conhecido a Gesy, o grande amor da sua vida.
A cada encontro uma cerveja e a cada cerveja um quibinho frito e muitos beijinhos... assim, os dias passam sem tristeza ou sem desnutrição. O corpo carrega a alma, assim como o estômago a feijoada! Embriagai-vos como achardes melhor, contanto que vos embriagueis, sem que a consciência pertube o teu sono. Assopre a mosca da tua sopa e devore-a sem pudor.
Ei! Espera aí... estou ouvindo alguém gritar o meu nome, deve ser a fome... parece voz de homem. Um, dois, três e lá vamos nós: tá na mesa pessoal... televisão de cachorro... coitado dos bichinhos que têm que engolir aquela ração que parece osso.
Vou-me embora pra Passárgada!
Lá sou amigo do rei: terei a mulher que eu quero na cama e cozinha que escolherei!

Hora de fazer
Arroz de amendoim
2 colheres de sopa de óleo
2 dentes de alho amassados
1 cebola pequena bem picada
2 xícaras de chá de arroz lavado e escorrido
1 ½ xícara de chá de amendoim torrado sem pele, passado pelo processador ou moído grosso
4 xícaras de chá de aguá fervente
Sal a gosto

Aqueça o óleo em uma panela em fogo alto. Doure a cebola e, em seguida, o alho, levemente. Adicione o arroz e o amendoim e refogue por 3 minutos. Cubra com a água e tempere com o sal; misture e tampe a panela parcialmente e cozinhe em fogo brando.
Tire o arroz do fogo quando secar a água; deixe descançar por 5 minutos e solte os grãos com um garfo e sirva.

Referência de site

Disponível em: http://vagalume.uol.com.br/vinicius-de-moraes/feijoada-a-minha-moda.html. Acesso em: 23 mar. 2010.
Bibliografia
FERNANDES, Caloca. A culinária tradicional paulista nos hotéis SENAC São Paulo. São Paulo: Senac, 1998.

“Comfort food” (Comida reconfortante)

“Diante do medo um sorriso aeróbico
Nas bochechas a cãimbra de uma alegria incompleta
Nada como um sorriso burro e paranoico
Para não perceber a velocidade terrível da queda.”
Lobão

“Comfort food”, a tradução literal da palavra é comida reconfortante. O termo é usado para definir a comida da alma, a comida caseira, que envolve o prazer gustativo e o sentimental. Para usar uma expressão familiar, poderíamos dizer que “comfort food” é a comida caseira, cuja receita herdamos de nossos avós. Todos nós temos guardados na memória episódios culinários do tempo em que nossos avós cozinhavam pratos apetitosos. Eu me lembro da abobrinha recheada que a minha avó fazia!

Além dos sabores e dos aromas da minha infância, recordo-me também do ambiente em que almoçava. Era pequenino e esperava a comida assistindo ao desenho do “He Man”; talvez essa seja uma das primeiras lembranças da minha vida. Os almoços na casa da minha avó marcaram-me uma época da vida, em que eu era cuidado por ela e pelo meu avô nos dias da semana; já no final da semana, os meus pais me acolhiam. Havia uma expectativa de encontrar meus avós na segunda-feira para comer a comidinha caseira, e de encontrar os meus pais na sexta à noite para comer pizza. Um pouco mais tarde, já morando com os meus pais, lembro-me de quando chegava da escola faminto, e de mau humor, a comida da minha mãe me confortava.

Hoje não tenho a possibilidade da “comfort food”, a vida moderna me tirou o conforto da casa dos meus avós e dos meus pais. Muitas vezes, vivo atrás de “fast food”, na velocidade terrível da metrópole. As buzinas dos automóveis me atordoam, a fumaça da cidade me sufoca, a falta de educação dos passantes me injuria, a imposição dos vendedores para eu comprar mais uma torta de maçã por apenas R$ 3,99 me faz achar que sou um miserável e impaciente! E a comida não têm mais o mesmo sabor!

Hora de fazer
Abobrinha recheada com carne moída

2 abobrinhas
600g de carne moída
2 cebolas médias
4 dentes de alho
2 tomates
1 folha de loro
150g de azeitona verde
300g de mussarela fatiada
Salsa fresca picada
Óleo (quanto basta)
Sal e pimenta do reino a gosto
Lave as abobrinhas e coloque-as por três minutos em água fervente; enxague-as em água com gelo até esfriarem. Pique as cebolas, os dentes de alho, os tomates e as azeitonas. Refogue o alho e a cebola. Coloque a carne moída e mexa-a até cozinhar. É importante mexer bem para não empelotar a carne. Acrescente sal e pimenta. Coloque o tomate e cozinhe-o até amolecer; adicione as azeitons picadas. Não deixe a carne cozinhar até desidratar, pois irá ao forno com a abobrinha e terá mais tempo de cozimento.
Corte a abobrinha ao meio, formando uma espécie de barca, e retire parte da polpa com as sementes, com o auxílio de uma colher de sopa. Recheie as abobrinhas com a carne e cubra-as com o queijo. Aqueça o forno e coloque as abobrinhas; deixe-as no forno até gratinar o queijo, ou dourar. Sirva-as quentinhas, com arroz e molho de tomate, como a minha avó fazia.


Referência

Disponivel em: http://jornalismofm.com.br/category/colunas/artigos-e-comentarios/page/2/. Acesso em: 16 mar. 2010.

Chef Felipe Tomasi
Contato: felipetoma@hotmail.com
Fone: (19) 35822301
(11) 3237 4492

Ciência e gastronomia

“Sabor: Características gustativas e olfativas que são percebidas na boca e por via retronasal e que permitem identificar cada alimento.”
Dicionário léxico científico-gastronômico

A culinária é uma ciência desde sua existência, como qualquer outra atividade humana. Todavia, nos últimos anos, o estudo da gastronomia tem-se desenvolvido freneticamente. A ciência ajuda o cozinheiro a descobrir novas preparações através de testes realizados em laboratório (cozinha). Ressalto: não é preciso fazer milhares de testes, pois, embasado na ciência, o cozinheiro pressupõe o resultado do teste! Que maravilha!

O aspecto dos alimentos mudou com a chegada da ciência na cozinha e existem restaurantes que servem espaguete de manjericão! O estado físico do alimento é transformado, ou seja, um líquido é servido em forma sólida e vice-versa. Essa é apenas uma das loucuras gastronômicas da nova cozinha.

A novidade gastronômica deu-se na década de 1990 na Espanha. Duas décadas depois, a gastronomia molecular (esse nome ainda está indefinido pelos estudiosos) está causando uma divisão na cozinha europeia. Os radicais não admitem a transformação do alimento. As escolas europeias de gastronomia esqueceram de ensinar a cozinha clássica. Além disso, há comercialização de produtos nessas escolas, e alguns chefes criaram uma marca de produtos para a gastronomia molecular, de forma que eles comercializam esses produtos nas universidades: alguém está ganhando muito dinheiro com isso!

Prevejo o futuro da gastronomia e já não tenho apetite! Será que o futuro da alimentação é tomar feijoada pelo canudinho e comer caipirinha no prato? Se depender de mim, não! Espero que a nova cozinha mude-se para os museos de arte moderna: assim, a nova gastronomia vai ficar muito mais elegante no quadro do que no prato ou talvez banalizada... Para quem se interessa por novidades, vale a pena fazer uma busca na internet, e olhar as imagens dos pratos do chef catalão Ferran Adrià!

Bom apetite e tomara que amanhã eu acorde e o mundo não tenha se transformado no desenho “Os Jetsons”.




Hora de fazer

Sanduíche de abacate com tomate
Rendimento (2 sanduíches)

6 fatias de pão de forma sem casca
¼ de abacate
1 tomate
6 colheres de sopa de maionesa
2 ovos cozido

Escolha um abacate consistente, descasque-o e corte-o em lâminas. Retire a pele e as sementes do tomate, deixando-o em água fervente por 30 segundos e depois mergulhe-o em água fria, retire a casca do tomate, parta-o ao meio e retire as sementes com os dedos. Em seguida, corte-o em fatias médias. Coloque os ovos em água fria, leve-os a fervura por 10 minutos, retire a casca e pique-os e misture-os à maionese. Disponha as fatias de pão em um prato e passe a maionese somente em um lado das fatias. Coloque o abacate e o tomate sobre uma fatia do pão, coloque outra fatia de pão por cima, repita essa operação. Cada sanduíche deve ter três fatias de pão e duas camadas de recheio. Umedeça um pano de prato e envolva os sanduíches, deixe-os descançar por 20 minutos e sirva-os.

Essa receita é chilena. Dedico aos bravos guerreiros chilenos que não se cansam de cair e levantar!

A natureza degradada

“Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí.”
Chico Buarque

Se pensarmos primeiramente na natureza propriamente dita, uma característica sua que vem à tona é sua condição de não cultivada, selvagem, primitiva. Podemos acrescentar também que, embora a degradação faça parte de todos os seres vivos, o que se nota no atual estágio da humanidade é uma interferência do homem tão grande na natureza, que isto tem acelerado o processo de degradação com consequências imensas na produção de alimentos.
No período pré-revolução industrial, o homem produzia o que realmente necessitava consumir e, consequentemente, não havia desperdício. Hoje o homem produz muito mais do necessita consumir e, no entanto, há pessoas que não têm o que comer. Alguma coisa está fora da ordem... fora da nova ordem mundial...
O uso indevido dos alimentos pelo homem é parte do processo de degradação do meio ambiente. Examinemos algumas ideias: há por exemplo o descarte de alimentos ou de parte deles que ainda poderia ser utilizada, e há também o problema das embalagens dos alimentos, construidoras de lixões a céu aberto que constituirão em fontes de tristezas e malefícios para a sociedade, haja vista a recente tragédia do morro do Bumba em Niterói.
Agora, para falar de um assunto que me é muito caro, vamos trocar uma ideia sobre o que podemos fazer para aproveitar melhor os alimentos na cozinha. Para descascar a batata, por exemplo, utilize um descascador de legumes e você obterá um aproveitamento maior que se o fizesse com uma faca. Se você fizer a batata com casca, fica deliciosa e nutritiva.
Outra ideia diretamente relacionada à natureza, diz respeito à atenção à sazonalidade dos alimentos. Devemos respeitar o que a terra nos oferece naquela estação. Se é tempo de manga, vamos comê-la. Segundo Brillat Savarin, o cozinheiro que não respeita a sazonalidade dos alimentos não merece o título de cozinheiro.
Talvez esse seja um momento adequado para uma reflexão sobre o excesso de consumo a que somos levados. É impossível viver sem consumir, sem produzir nenhum lixo, mas é possível viver respeitando melhor a natureza, consumindo mais produtos orgânicos com embalagens recicláveis.

Bolo de cenoura

No liquidificador, bata tudo:
4 ovos
1 colher de sobremesa de baunilha
Um pouco mais de ½ xícara de óleo
2 cenouras médias cruas picadas em rodelas finas (evite descascar a cenoura, basta lavá-las; aprenda a aproveitar o máximo dos alimentos)
1 ½ xícara de açúcar
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher de sopa de fermento em pó instantâneo

Para a cobertura
Na tigela, misture e pingue:
3 colheres de achocolatado em pó
3 colheres de chocolate do “Padre”
1 colher de manteiga
Quanto basta de leite

Hora de fazer

Preaqueça o forno a 180°. Depois de processar os ingredientes no liquidificador, coloque-os em uma forma retangular. Leve a assadeira ao forno por aproximadamente 35 minutos.
Para a calda, misture os chocolates em pó e acrescente o leite até virar um creme grosso.
Coloque a calda sobre o bolo quando desligar o forno. Deixe-o no forno até esfriar.
Delicie-se como uma criança!
Felipe Tomasi (e-mail:felipetomasi@hotmail.com)

Referências

HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
SAVARIN, Brillat. A fisiologia do gosto. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Pescada sem cabeça ensopada

“Dei um gole no meu wisky sour, apaguei meu cigarro na tábua de cortar e assisti um inseto tentando sair do ralo.”
Raymond Chandler


Cortei a pescada em quatro partes. Lembrei-me de Jack, “o estripador”. Habilidade igual a dele me faltava. Necessitava remover a barrigada dos peixes com a ponta da faca. Sem deixar vestígio. O crime perfeito.

Era verão em São Paulo, as baratas passeavam pela cozinha suja. Só a fumaça do cigarro disfarçava o mau cheiro. No dedo, um corte profundo. Aproveitei o sangue para colorir o molho à base de legumes.

Saí para comprar folhas de louro e mais cigarros. Abri a porta do prédio e tropecei em um mendigo. Não adiantou pedir desculpas, ele estava incosciente. Robei-lhe o litro de cachaça que abraçava com força. Caminhei em direção ao mercadinho do bairro. Escolhi um lindo maço de louro. Faltavam-me alguns centavos para a compra. Deixei o louro e levei o cigarro.

Voltei para a casa. Olhei para a tábua. Avistei mais baratas. Rasguei a receita do peixe. Não tinha louro, não segui a receita! Fritei o alho, a cebola, o tomate. Coloquei a água e mergulhei os peixinhos. Agora, me sentia tranquilo. Os peixes não estavam mais fora d’ água. Um gole de cachaça. Um trago no cigarro sabor menta. O caldo estava em ebulição na caçarola desgastada pelo tempo. Precisava engrossá-lo. Apliquei o método francês: farinha e manteiga. Era o que me restava. Abri o jornal, enquanto o caldo engrossava. Passei a vista no caderno de gastronomia. “Inaugurado em abril, o francês Dumas, do chef Baratin, é o exemplo mais bem acabado de restaurante bistronômico em São Paulo”.

O peixe estava pronto. Coloquei-o no prato sobre o velho caixote de frutas e me sentei no chão forrado pelo jornal que acabara de ler. A falta do louro não prejudicou a receita. A velha técnica francesa funcionou. As baratas continuaram sobre a tábua. Espiei pela janela e o mendigo continuava na porta do prédio. Parece-me que nada mudou...







Pescada sem cabeça ensopada
Hora de fazer
4 pescadas sem cabeça
1 cebola e meia
1 tomate
6 tomates cereja
5 dentes de alho
1 colher de sopa de molho de tomate processado
Um toque de pimenta calabresa
3 ramos de dill ou endro (erva aromática)
½ limão siciliano
Uma colher ( sobremesa) de farinha de trigo
Uma colher ( sobremesa) de manteiga
Um toque de sal


Corte a pescada em quatro partes. Tempere-as com sal, pimenta calabresa, dill rasgado grosseiramente e limão siciliano espremido. Reserve-a na geladeira coberta com papel filme por 1 hora. Corte o tomate em rodelas grossas, a cebola igualmente e o alho em lâminas. Aqueça uma caçarola com óleo vegetal e frite a cebola, o alho, o tomate e por fim os tomates-cereja inteiros. Coloque as pescadas e cubra com água. Deixe apurar em fogo médio com a panela tampada por 10 minutos. Acerte o tempero se necessário. Em uma frigideira, derreta a manteiga e misture a farinha. Coloque a mistura no molho e deixer cozinhar por 5 minutos. Para acompanhar sirva com arroz branco.
Aproveite as cabeças dos peixes para fazer um caldo à base de legumes.

Bibliografia

CRICK. Mark. A sopa de Kafka: uma história completa da literatura mundial em 14 receitas. São Paulo: Argumento, 2009.