sábado, 17 de julho de 2010

Aulas de gastronomia

Aulas particulares de gastronomia em São Paulo.

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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Cala a boca Galvão!

“Sem omelete niguém faz ovos.”
Galvão Bueno e Paulo Roberto Falcão

25/06/2010. Brasil X Portugal. Vale do Anhangabaú, São Paulo. Projeção da Tv Globo. Uma tela imensa. Patrocínio da cerveja Brahma. Cerveja gelada. Café da manhã de muitos brasileiros. "Vuvuzela" tocando meus tímpanos. Cala boca Galvão Bueno. Grita a menina de trás. Jogo tenso. Meninas escandalosas. A câmera focaliza as pernas de Cristiano Ronaldo. Mais gritos. Vai Corinthians. Esses sofredores não esquecem do time nem na Copa do Mundo. Parece que alguém tentou abrir meu bolso traseiro. Quando me viro, vejo um menino enrolando um cigarro. Não é assalto. Artesanato. Habilidade manual. Na minha frente, uma mulata de 1,80 m gritando: Vai “Basil”. Besteiras todos falam, inclusive Galvão. Tá difícil assistir o jogo. Torcicolo. Calo no pé. Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar. Chico Science se calou. Dunga disse em 1994: essa taça é para vocês, bando de traíras. Por falar em traíras, que fome. Não alcanço a barraca de comidas. Só tem gente bebendo nesse vale. Saudades do Zagalo. Vocês vão ter que me engolir. Galo, galinha! Meu estômago dói. Quero engolir alguma coisa, não posso. Comida, por favor. Quero comer! Não se cale Galvão. Precisamos de palavras. Palavra minha, matéria, minha criatura, palavra que me conduz, mudo, e que me escreve desatento, palavra. Palavras de Chico Buarque. Palavras de Galvão, não me cansam. Palavras de Tostão: o melhor do mundo é Di Stefano. O Pelé não é desse mundo. Quanta palavra. São só palavras. Quero gritar gol. Tá difícil. Nem Cristiano Ronaldo, nem Nilmar. Nem colonizador, nem colonizado. Ambos me calam. Não gosto de me calar. A vida é para falar. Falar bem. Falar mal. Apenas falar. Não se cale Galvão, por favor. É tetra. A voz que não sai da minha lembrança. Esse jogo tá chato. Quer calar. Cala a boca Bárbara. "¿Porque no te callas?" Até o rei da Espanha quer calar. Não me faça calar, silenciar, cessar ou emitir qualquer som. E que esse jogo não me cale. Não me contenha, não me reprima. Quero lançar um grito desumano. Que é uma maneira de ser escutado. Cálice. Ouviram do Ipiranga as margens plácidas. O grito do Ipiranga. Articulado ou não. Minha pátria é minha língua. Fernando Pessoa. A língua. O principal meio de comunicação, falado ou escrito. Não se cale. Língua maldizente. Língua de sogra. Língua de cobra. A língua que ajuda a mastigar, a deglutir. Responsável pelo paladar. Instrumento do grito. Portugal X Brasil. O placar me cala. 0X0. A multidão me cala. Não consigo comer. Não me movo. Olho na tela. A boca tá seca. Minha língua tá afiada. Coitada da mãe do Galvão. Nilmar chuta a gol. O goleiro português defende a bola. Gritos na multidão. Filho da puta. Língua de trapo. O Dunga não presta. O povo gosta de balangar o beiço. Aqui ou na África. Em português ou em zulu. O que importa é balangar. Quem me dera uma língua de gato. Um docinho para alegrar o jogo. Língua de sinais. Um braço na minha frente. Língua falada. Cala boca Galvão. Um berro em meus ouvidos. Acabou o jogo.

Hora de fazer

Panna cotta com rapadura
Rendimento – 8 pudins pequenos

500 ml de creme de leite fresco
Rapadura a gosto
45g de açúcar
1 envelope de gelatina em folhas
20 ml de cachaça ouro
Melaço de cana a gosto

Aromatizar o creme de leite com a rapadura e o açúcar em fogo médio até um pouco antes da fervura. Coar e acrescentar a cachaça. Hidratar a gelatina com um pouco de água. Acrescentar a gelatina à mistura, colocá-las nas formas e levar para a geladeira até endurecer. Desenformar o pudim e acrescentar um pouco de melaço de cana por cima.

Na Itália, a Panna Cotta é servida com cascas de laranja cristalizadas ou frutas vermelhas. Na minha versão é servida com melaço de cana. A plantação de cana no Brasil conduz à monocultura e ao êxodo rural no país. Por outro lado, é geradora de combustível e energia.