quarta-feira, 12 de maio de 2010

Comida para boi dormir

Peso a farinha e, ao ver o monte de pó branco, fico a fim de enfiar meu nariz. Junto os ovos e a farinha na mistura e jogo uma gota do vinho do Porto. Dou um trago; é bom, então boto mais na panela – o fim é inevitável. A garrafa logo fica vazia. Bebi a metade e a outra metade foi para a mistura: que porra de bolo mais fissurado!
Irvine Welsh

O trato foi feito. A conversa durou por volta de 3 minutos. Ele ia me esperar na Avenida São João. O telefone tocou. O papo era sobre dinheiro. Não tive como recusar. Tratei para a manhã seguinte. Calculei que daria tempo de me encontrar com ele... depois do negócio de compadres.
Acordei cedo, preparei um Croque Madame de café da manhã. Tomei um achocolatado e parti. O destino era o bairro de Santo Amaro. Agarrei o ônibus no centro da cidade em direção a zona sul. De dentro do coletivo, vi um pivete assaltando um carro no meio do engarrafamento. Pensei em ligar para a polícia. Que se foda! É mais um assalto. Cheguei a tempo no local marcado. Era um beco sinistro. Uma espécie de ferro-velho. Sentei na cadeira do escritório do negociante. Ele vestia chapéu. Não pude ver o seu rosto direito. A quantia estava certa. Ele depositou nota sobre nota em cima da mesa. Coloquei a gaita na cueca e dei no pé.
Ainda dava tempo de chegar no local combinado. Era hora do almoço. A fome bateu. No bairro de Santo Amaro, há muito restaurante típico nordestino. Não pensei duas vezes, parei para papar. Pedi uma cachaça, uma cerveja e o cardápio. Arrisquei a escolha, roguei por uma carne de sol e uma macaxeira. Já não dava mais tempo. Fodeu! Perdi o compromisso marcado para as 14:00. Fui seduzido pelo estômago.
Ranguei depressa. Saí de Santo Amaro com carne entre os dentes. Entrei no ônibus. Arrotei, senti o cheiro do coentro. O motorista brecou subitamente. Condutor filho da puta! Parece que tá carregando porco!
Meu destino era o centro. A porra do trânsito não andava. Eu suava frio. Ainda bem que tem um ambulante vendendo água dentro do ônibus. Cheguei na praça da Sé por volta de 14:40. Parei para comprar um amendoim doce na banca da dona Marta. Ela já sabia. A rotina não me deixava mudar. Um amendoim e uma cerveja gelada. Saí andando apressado como paulistano. É hábito da cidade. Quem passeia lentamente é assaltado.
Olhei para o relógio. 15 horas. O compromisso estava perdido, mas decidi esperar no local combinado. Na minha frente, estava o fórum; nas minhas costas, a igreja de São Gonçalo e ao meu lado a putada. Abri a mochila para pegar um cigarro. Ouvi um barulho. Parecia tiro. O meu corpo adormeceu. Vomitei a carne seca do almoço. Dessa vez, parecia um gato ao molho pardo. O sangue escorria pela camisa do Timão autografada pelo Basílio.
Acordei com o despertador. Sai da cama apressadamente para preparar um Croque Madame...

Hora de fazer
Croque Madame
Para um sanduíche


2 fatias grandes de pão de forma
2 colheres (sopa) de molho branco (bechamel)
1 fatia fina de queijo (gruyère, emmental, flamengo...)
2 fatias de presunto
30g de manteiga
30g de farinha
Quanto basta de óleo
Quanto basta de noz moscada
1 ovo
Sal e pimenta

Preaqueça o forno a 200°.

Prepare o molho bechamel. Para um litro leite, derreta 30g de manteiga e misture 30 g de farinha. Mexa por 20 minutos, acrescente sal, pimenta e um pouco de noz moscada. Passe generosamente o molho no pão. Coloque o queijo e o presunto sobre o pão.

Leve para gratinar no forno por 10 minutos, ou até o queijo derreter.

Estrale o ovo numa frigideira anti-aderente untada com óleo. Tempere com sal e pimenta.
Caro leitor, desde 26 de abril, comecei a escrever para o site Portal Gastronomia. Quem estiver interessado, acesse: http://www.portalgastronomia.com.br e clique em artigos. O meu artigo é Natureza degradada.


Bibliografia

CRICK. Mark. A sopa de Kafka: uma história completa da literatura mundial em 14 receitas. São Paulo: Argumento, 2009.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Site
Disponível em: http://elvirabistrot.blogspot.com/2006/10/croque-madame.html. Acesso em: 26 abr. 2010.

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