quarta-feira, 12 de maio de 2010

Continue andando... sem destino

"O uísque é o melhor amigo do homem – é o cachorro engarrafado!"
Vinicius de Moraes

Cativeiro (22/12/2005)
Meu amigo Navarro foi sequestrado... fiquei muito preocupado, ele estava em maus lençóis. Não, os lencóis eram macios. Os sequestradores eram homens de bom gosto e acolhedores. Vocês acreditam que no cativeiro tinha uma garrafa de uísque a disposição? E sem gelo, como deve ser apreciado um bom destilado escocês. Para acompanhar a bebida, tinha petiscos, como avelã, nozes, pistache, damasco. Havia uma vitrola com discos de Jazz. Só músicos da pesada... Mile Davis, Cole Traine, Ray Charles, US3, Glenn Miller, Charlie Parker.

Delegacia (22/12/2005)
Navarro tinha como hábito chegar em casa em torno da meia-noite. Ele sempre apanhava o último ônibus, não precisava dar sinal, o motorista o reconhecia. Rapaz de óculos, terno e gravata... parecia um pastor da Universal, inconfundível. Silêncio... é madrugada no morro da Casa Verde... o radinho de pilha tocava Adoniran, 1:00, 2:00, 3:00, 4:00 da madrugada e a sua esposa foi para a delegacia. Ansiosa, decidiu se instalar na sala do delegado para relatar o sumiço do marido. O delegado impaciente batucava na mesa e cutucava os dentes com um palito para mover uma casca de amendoim. No rádio tocava Juca – o delegado é bamba na delegacia, mas nunca fez samba, nuca viu Maria.

Cativeiro (23/12/2005)
Farto, Navarro saboreava castanhas e tragava os últimos goles da garrafinha. Ao levantar-se, sentiu um cheirinho de liguiça acebolada: seu prato predileto. A bebida acabou... o sequestrado ficou impaciente. O cheiro do seu prato preferido deixou o pobre atordoado. Tentou encontrar uma saída. E não é que os sequestradores, desatentos, esqueceram-se de trancar as portas e as janelas do cativeiro! Eis, o malandro na praça outra vez... Na ponta dos pés, de sapato branco, Navarro caminhou até o ponto de táxi mais próximo. O taxista perguntou o destino. Soluçando ele respondeu: jamais saberás...

Casa da família (23/12/2005)
Depois da queixa dada, sua esposa retornou ao lar. Preparou um café, só líquido lhe apetecia no momento de angústia. O cheirinho da bebida lhe fazia lembrar do marido. A mesa posta de peixe, deixa um cheirinho da sua filha. Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha... Navarro chegou... como quem chega do bar, trouxe um litro de água ardente tão amarga de tragar... Sua esposa, contente, foi logo lhe abraçar. Ficou abismada por causa do perfume do uísque que sentiu ao lhe beijar.
– Meu amor, que diabos de sequestro foi esse? Você está cheirando uísque! Esbravejava.
– Minha querida, é difícil acreditar, fui sequestrado por homens de bom gosto e desatentos. Até uísque tinha no meu cativeiro!
Agente almoça e só se coça e se roça e só se vicia, a porta dela não tem tramela, a janela é sem gelosia. Nem desconfia. Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor... O rádio foi arremessado no meio da rua.

Hora de fazer

Linguiça do Poser

500g de linguiça do Poser
3 cebolas
3 dentes de alho
Salsinha
1 limão cavalo
Quanto basta de água

Vá até o bairro 22 de maio, no mercado Ideal, do Moretto, em Santa Rita do Passa Quatro. Peça meio kilo de linguiça ao Poser. Pegue a linguiça. Deixe-as inteiras. Coloque em uma frigideira com aproximadamente 150 ml de água. Frite-as (leitor, fritar na própria gordura da linguiça com água). Quando a linguiça começar a dourar, coloque a cebola em rodela; em seguida, o alho picado. Deixe-os fritar, mexendo sempre, até dourar. Coloque a salsinha picada. Sirva com pão francês e limão cavalo. Aproveite, é época de limão cavalo!

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